São Paulo (AUN - USP) - No dia 14 de janeiro, os deslizamentos no Rio de Janeiro alcançaram a posição de décimo pior desabamento da história, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Não são estatísticas inesperadas. Hoje em dia, já se espera que, chegando o verão, as capas dos jornais se encham de vítimas que perderam suas casas e de anúncios de desaparecidos.
O pesquisador Álvaro dos Santos expôs, no dia 1º de junho, o que suas pesquisas revelaram sobre as causas e soluções desse fenômeno cada vez mais constante: as enchentes.
Álvaro é geólogo e pesquisador sênior do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) especializado no estudo de enchentes. Sua exposição fez parte da terceira e última mesa do seminário Metrópoles: Planejamento e Gestão em Meio-Ambiente, realizado no auditório da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), que tinha como tema “Planejamento de metrópoles: a transversalidade da dimensão climática”.
Segundo o geólogo, enchentes são, por um lado, consequência de uma relação problemática com o meio-ambiente e de um conflito social sobreposto a um conflito geomorfológico. “Cada vez mais cresce a demanda popular por habitação, mas o preço do aluguel acaba com qualquer família”, afirma o pesquisador. “Ela começa a jogar, então, com distância, periculosidade, insalubridade, condições ambientais e sanitárias precaríssimas.”
Por outro lado, Álvaro afirma que enchentes são consequência também de três técnicas de urbanização de que nos tornamos dependentes, mas que devem ser usadas com muito cuidado: a impermeabilização, a canalização de rios e córregos e a engenharia de áreas planas.
“Para resolver esse problema, precisamos, primeiro, parar de errar”, afirma o pesquisador. Lidar com os erros já cometidos, entretanto, é um pouco mais complicado: é necessário ampliar as calhas dos rios principais, manter um processo de desassoreamento de toda a rede de drenagem, eliminar pontos de estrangulamento e uma variedade de outras medidas que devem ser tomadas imediatamente.
Mas, principalmente, é necessário aumentar a capacidade de retenção da água de chuva de maneira apropriada. “Precisamos não precisar dos piscinões”, diz Álvaro. Embora o piscinão tenha sido tratado como a principal maneira de lidar com o problema das enchentes, o grau de contaminação da água que nele fica armazenado é imenso, gerando uma tragédia ambiental. Entre as alternativas ao piscinão, destacam-se o plantio de bosques florestados, a construção de calçadas, passeios e pátios drenantes e até mesmo reservatórios domésticos e industriais.