São Paulo (AUN - USP) - Estudar o ambiente das metrópoles é, ao mesmo tempo, essencial e tortuoso. Essencial porque o Brasil é cada vez mais um país urbano – segundo pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU), até 2050 a porcentagem da população brasileira que reside em centros urbanos será de 93,6%. Tortuoso porque os problemas que afligem as grandes cidades não podem ser estudados de um só ângulo: é necessária uma abordagem interdisciplinar.
Foi a conclusão a que chegaram as pesquisadoras da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP) Aparecida Magali de Souza Alvarez e Aline Matulja e que motivou o seminário Metrópoles: Política, Planejamento e Gestão em Saúde e Ambiente, realizado no auditório da FSP.
Magali é formada em psicologia pela Universidade Paulista (UNIP) em 1993, completou mestrado e doutorado na área de saúde pública pela FSP e pós-doutorado pela Universidade de Tours, na França. Matulja é formada em engenharia ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e atualmente é mestranda na FSP.
As pesquisadoras buscaram no conceito de complexus, desenvolvido pelo pensador francês Edgar Morin, um meio de lidar com um objeto de estudo tão inesgotável: segundo o filósofo, “é preciso reagrupar os saberes para buscar a compreensão do universo”. Para isso, é necessário estudar cada fenômeno em sua unidade e, simultaneamente como uma união de sistemas plurais.
“O complexo de metrópoles, por exemplo, é formado por municípios com condições diferentes e economias diferentes, mas que são perpassados por problemas que transcendem esses limites territoriais”, afirma Magali. É necessário, portanto, estabelecer uma ferramenta burocrática que permita decisões conjuntas e, ao mesmo tempo, respeite a diversidade de condições.
Outro problema que deve ser discutido nessa mesma chave é a questão do clima. “A variabilidade morfoclimática é global. Porém a interferência no nível local deu origem a problemas característicos das metrópoles”, diz a pesquisadora. O maior exemplo deles é a ocupação de áreas de risco, que não só é causa direta de danos – por meio de desmoronamentos, por exemplo – como também faz com que enchentes e outras tragédias urbanas tenham consequências mais graves.
“Para lidar com algo de tamanha complexidade, é preciso que o conhecimento seja tratado como um círculo de palavras”, afirma Magali, citando um conceito do pensador francês Pascal Galvany – um espaço de convivência das principais áreas do conhecimento onde se produz não só resultados mas, principalmente, diálogo.