São Paulo (AUN - USP) - Do dia 3 ao dia 9 de julho, ocorrerá mais uma edição do Projeto Cananeia, uma das atividades de extensão da Faculdade de Odontologia da USP, que possibilita que seus estudantes vivenciem projetos em saúde coletiva, proporcionando ações educativas e de atenção em saúde bucal aos escolares e suas famílias nas comunidades em Cananeia.
O município de Cananeia está localizado na região metropolitana de Registro, conhecida também como Vale do Ribeira, no qual se localiza o Parque Estadual da Ilha do Cardoso. O local abrange uma área de 15 mil hectares, onde são encontrados todos os tipos de vegetação da Mata Atlântica costeira. A região possui uma variedade extraordinária de ambientes e uma alta diversidade biológica. No entanto, é conhecida por ser uma das regiões mais pobres de São Paulo, contando com uma população local composta, basicamente, por mestiços, caiçaras e quilombolas, com inúmeras carências, como na área de saúde bucal.
Além de possibilitar aos alunos a oportunidade de interagir com a riqueza cultural do local e com o cenário do cotidiano dos moradores, o projeto visa à formação de profissionais conscientes de seu papel científico e social, promovendo a integração Universidade – Serviços de Saúde – Comunidade, bem como ao incentivo de projetos de pesquisa e ao desenvolvimento de iniciação científica.
A iniciativa
O projeto, concebido pelos próprios alunos de graduação, surgiu em 1992, devido a contatos com acadêmicos de outras unidades de saúde da Universidade que já desenvolviam atividades no Vale do Ribeira. Desde então, a região recebe anualmente alunos, docentes e pesquisadores da FO, a fim de realizar esse trabalho educativo.
Em 2006 e 2007, a viagem não foi realizada. Entretanto, em julho de 2007, professores de saúde coletiva, cirurgiões-dentistas que já haviam participado anteriormente, estudantes da FO e a Secretaria Municipal de Saúde de Cananeia reuniram-se a fim de reorganizar e reformular a atividade. Com foco em um processo crítico de ensino-aprendizagem, o projeto pretende agora buscar maior autonomia, integrando de forma mais efetiva os moradores e o poder público local. O objetivo, segundo o atual coordenador, professor Antônio Carlos Frias, é aliar o conhecimento e as pesquisas que a Faculdade realiza a fim de mobilizar e despertar o interesse dos moradores de Cananeia para cuidar de sua própria saúde.
São atendidas várias comunidades. Na Ilha de Cananeia, presta-se auxílio no Centro, em Carijó e em Acaraú. Na área continental da cidade, são atendidas as comunidades de Santa Maria, Porto Cubatão, Itapitangui e Ariri – a mais distante da região, na qual o grupo de estudantes da FO se instalou nas edições de 2008 e 2009. Na Ilha do Cardoso, as comunidades visitadas são Marujá, Vila Rápida, Enseada da Baleia e Pontal do Leste.
Nesta edição do projeto, os alunos ficarão alojados na base de pesquisa Dr. João de Paiva Carvalho, base sul do Instituto Oceanográfico da USP. Participarão cerca de 20 alunos de graduação. Frias, docente do Departamento de Odontologia Social, explica o processo de seleção: “Os alunos se agregam em grupos de três ou quatro pessoas, montam uma atividade educativa e a apresentam a uma banca. Os melhores grupos são selecionados para participar.” A viagem é realizada com o micro-ônibus da FO. Entretanto, na região, os participantes, muitas vezes, utilizam barco para se deslocarem entre as diferentes comunidades.
“Todo o material utilizado vem daqui [da FO]. Na volta, trazemos todo o lixo que produzimos lá, por tratar-se de lixo hospitalar e para não poluir a região”, ressalta Frias. O projeto conta com o apoio financeiro da FO, do Fundo de Cultura e Extensão Universitária da USP e da Secretaria Municipal de Saúde de Cananeia.
O docente aponta que o atendimento clínico faz parte do projeto, mas o grande foco é a parte educativa, com atividades de conscientização e prevenção em saúde bucal. Em 2010, 1.153 pessoas participaram de ações educativas e escovações – mais que o triplo do ano anterior. Quanto às ações clínicas, foram atendidas 398 pessoas – mais que o dobro do ano anterior. Foram realizados 78 procedimentos cirúrgicos, 658 procedimentos preventivos, 23 procedimentos periodontais (tratamento de gengiva e osso) e 40 procedimentos endodônticos (tratamento da polpa dental), bem como 841 procedimentos de ART – Tratamento Restaurador Atraumático, uma técnica simples, porém eficaz, que dispensa o uso do “motorzinho”, consistindo na retirada de tecido cariado com curetas manuais, para posterior restauração com um material chamado ionômero de vidro.
No tocante à relação dos alunos com a comunidade local, o objetivo é justamente quebrar essa barreira, fazendo com que realizem um atendimento humanizado e integrado às formas de vida da população. “Quando os alunos chegam, o choque é muito grande, pois não é o universo em que eles vivem, é completamente diferente”, aponta o professor. “Porém, os alunos certamente voltam muito melhores da experiência.”