ISSN 2359-5191

03/10/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 17 - Saúde - Instituto de Pesquisas Energéticas
Ipen inicia desenvolvimento de radiofármacos para o tratamento de tumores

São Paulo (AUN - USP) - O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) iniciará na próxima semana pesquisas para o desenvolvimento de radiofármacos, medicamentos que contém em sua estrutura elementos radioativos, voltados para terapia de tumores. A iniciativa é uma continuidade do programa de nacionalização de radioisótopos, elementos radioativos empregados como matéria-prima para a produção de radiofármacos, iniciado em agosto passado, com a inauguração oficial das unidades produtoras de células de produção de tálio-201, iodo-131, gerador de tecnécio-99m e gálio-67 (veja matéria na edição de 22/08).

Após consultar a comunidade médica do setor por meio da Sociedade Brasileira de Biologia e Medicina Nuclear (SBBMN), o Ipen decidiu iniciar pesquisas com o objetivo de produzir peptídeos (espécie de proteínas) marcados com lutécio-177 e ítrio-90 para a terapia de tumores. Enquanto o primeiro é utilizado no tratamento de tumores em estágio inicial, o segundo atua no combate àqueles que se encontram numa etapa de desenvolvimento mais avançada, pois, ao contrário do lutécio-177, emite fluxos radioativos em maior intensidade.

A técnica de peptídeos marcados já é utilizada com sucesso nos Estados Unidos e Holanda, país onde se localiza a IDB, empresa responsável pelo fornecimento do lutécio-177 que será empregado nessa primeira fase de pesquisas. Depois, a previsão é que ele seja fornecido pela empresa canadense Nordian, da qual o Ipen já adquire os elementos químicos utilizados na produção de radioisótopos.

“O fato de produzir ou não o lutécio aqui no Brasil não é limitante para o desenvolvimento da tecnologia”, afirma a diretora de pesquisa do Centro de Radiofarmácia Elaine Bortoleti de Araújo. Há uma nacionalização da produção do radiofármaco e radioisótopo embora se deseje um dia fazê-lo. Só seria interessante produzir lutécio aqui se o obtivéssemos com alta atividade específica. De acordo com Constância Pagano Gonçalves da Silva, gerente do Centro de Radiofarmácia, o fluxo de nêutrons atual do reator do instituto não permite isso. Para tal, seria necessário aumentar de 5 para 10 Mw (Megawatts) a potência do equipamento.

Marcação
O processo de marcação consiste no acoplamento do elemento radioativo a um peptídeo que possua afinidade e, preferencialmente, especificidade com a célula tumoral. Essa especificidade é determinada pela existência de receptores para tal proteína na célula. No caso do lutécio-177, o peptídeo utilizado é o Dota-Tyr3-Octreotate, derivado da somatostatina, substância produzida pelo próprio organismo humano, e empregado na terapia de tumores neuroendócrinos. Porém, no processo, é utilizada uma versão sintética dele, já que a natural degrada-se rapidamente na circulação sangüínea. Segundo Eliane, um risco recorrente na associação entre um radioisótopo e um peptídeo é o da força da própria radiação daquele romper a ligação. Assim, ela tem que ser feita de modo que haja estabilidade na união.

Concluída a marcação, o peptídeo deve ser injetado o mais rápido possível no paciente, pois se corre o risco dele se desintegrar, seja por sua própria instabilidade, seja pela ação do radioisótopo, que também perde ao longo do tempo sua capacidade radioativa. Chegando na célula, o radiofármaco resultante da associação descrita vai agir sobre as células tumorais através dos receptores específicos. Os receptores existentes nessas também existem nas células sadias, mas no tamanho convencional. Por isso, quando injetado, o radiofármaco tem preferência por se concentrar nas células alteradas.

Paralelamente aos estudos de marcação com lutécio-177, serão realizados experimentos com iodo-131, que possui características físicas muito próximas daquelas apresentadas pelo lutécio-177, para as mesmas finalidades. Eliane afirma que não há registro de trabalhos em que houve a ligação do derivado da somatostatina empregado nos experimentos com iodo-131. Se os experimentos forem bem-sucedidos, existe até mesmo a possibilidade de patentear o radiofármaco resultante da ligação. Todavia, somente após todos os testes com animais terem sido concluídos é que serão realizados experimentos com seres humanos. Se tudo transcorrer bem, ela calcula que em um ano será possível iniciar essa outra etapa da pesquisa.

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