São Paulo (AUN - USP) - A jornalista, musicóloga, artista e diretora da Discoteca Pública de São Paulo na década de 30, Oneyda Alvarenga, completa 100 anos de seu nascimento. Em homenagem a essa figura feminina de destaque, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) organizou um seminário a seu respeito, que oferecerá palestras e apresentações nos dias 28 de junho, 30 de junho e 5 de julho, das 18h às 21h. As atividades abordarão não só o perfil da homenageada, como também os desdobramentos das suas ações voltadas para a disseminação cultural, visíveis até hoje.
“Ela foi uma mulher de destaque na formação da cultura metropolitana de São Paulo”, explica a organizadora do evento, professora Flávia Toni. Suas orientandas de mestrado, Luciana Barongeno, da Escola de Comunicações e Artes (ECA), e Valquíria Maroti Carozze, do IEB, desenvolvem suas teses sobre a homenageada. Ao longo do processo de pesquisa, a riqueza do material levantado e dos contatos estabelecidos levou à possibilidade de organizarem o seminário. “É uma maneira de construir a atualidade na pós-graduação. Cria um vínculo entre reflexão teórica, acadêmica, e a devolução imediata para a sociedade, que nutre essas instituições públicas”, diz Flávia.
Serão três ciclos temáticos a serem desenvolvidos durante o seminário. No primeiro dia, o tema Oneyda Alvarenga: música e poesia norteia três apresentações: a professora Flávia traçará o perfil intelectual da artista, a professora Telê Ancona Lopez abordará a sua produção enquanto poetisa, como seu poema A menina boba, e por fim, a cantora Caroline De Comi e o pianista Felipe Cavalheiro apresentarão dois de seus poemas que foram musicados por Camargo Guarnieri.
No segundo dia, Formação e parceria: primeiras pesquisas e a Discoteca Pública é o tema abordado por mais três apresentações. A primeira, da mestranda Luciana Barongeno, mostra aspectos contidos no livro A linguagem musical, que Oneyda escreveu como seu TCC de História da Música, em 1933, mas foi desenvolvido ao longo dos dez anos seguintes com a ajuda de Mário de Andrade. A versão aprofundada desse livro nunca foi editada, por isso se faz necessária uma discussão acerca da importância de uma futura publicação. A segunda apresentação, da professora Marilda Aparecida Ionta, diz respeito à relação estabelecida entre a artista e o escritor Mário de Andrade, que não só encarregou-a do projeto da Discoteca Pública, como tinha grande apreço pela jovem. Serão analisadas as correspondências entre os dois para entender como essa relação, que começou como uma parceria de trabalho, tornou-se de afeto e grande admiração mútua. E por fim, a mestranda Valquíria Maroti Carozze, com o tema Formando uma discoteca e seus ouvintes, mostrará a importância do projeto de Andrade e Oneyda na formação de um público consciente culturalmente na década de 30 de São Paulo.
No dia 5 de julho, As dimensões de uma discoteca buscará estabelecer um vínculo entre a Discoteca de Oneyda e a de hoje, que é nomeada depois dela e está no Centro Cultural São Paulo (CCSP). Primeiro, um resgate histórico da Discoteca entre 1935 e 1945 é feito por Vera Cardim e Carlos Eduardo Sampietri. Depois, a jornalista e compositora Nilcéia Baroncelli disserta sobre o tema Os endereços do som: a maturidade de Discoteca. E por fim, a atual diretora da Discoteca, Jéssica Aparecida de Matos Barreto, juntamente com Maria Elisa Pasqualini, falam sobre as atuais dificuldades do ramo e de qual o papel que hoje essa Instituição toma na sociedade.
De carreira meteórica, a mineira Oneyda Alvarenga ganhou destaque aos 22 anos, quando o grande escritor Mário de Andrade reconheceu nela a genialidade de uma artista. Adotando-a como discípula, desenvolveram juntos o grande projeto da Discoteca Pública de São Paulo, ao qual Oneyda se dedicou com grande afinco. “Ela tinha um espírito muito correto e devotado, se dedicaria a qualquer coisa”, diz Luciana Barongeno. “A Discoteca acabou desviando Oneyda de seus desejos artísticos, tanto como poetisa quanto como pianista, mas acredito que ela achava que valeu a pena”.
Flávia Toni acredita que ela se destaca principalmente por dois motivos: “por ser uma poetisa nascida há 100 anos atrás, quando as mulheres não tinham voz na sociedade, e por ter tido uma relação tão próxima com Mário de Andrade”. O seminário, portanto, seria uma “forma despretensiosa de homenageá-la, mas singela, porque não é em três dias que se consegue dar conta dessa figura”.
Há ainda planos futuros de maior disseminação do conhecimento acerca de Oneyda, tanto na publicação inédita do livro A linguagem musical quanto na criação de uma série de rádio com suas escolhas musicais e depoimentos, envolvendo o IEB, o CCSP e a Rádio USP.
Seminário Oneyda Alvarenga, um pouco
Data: 28 e 30 de junho e 05 de julho
Horário: 18h às 21h
Local: Instituto de Estudos Brasileiros. Av. Prof. Mello Moraes, travessa 8, n.140. Cidade Universitária, São Paulo
Telefone: (11) 3091-3197