São Paulo (AUN - USP) - Foi com a intenção de romper o estereótipo – mal atribuído – de que matemática tem que ser complicada e exaustiva que docentes do Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME) reuniram-se, oito anos atrás, para formar a Matemateca. O nome do projeto, alusão à “biblioteca”, explicita a saída que os pesquisadores encontraram para mudar o modo como as pessoas veem e se relacionam com essa disciplina: um acervo de objetos que instigam e explicam, de maneira interativa, conceitos matemáticos que nas fórmulas pareceriam muito mais distantes.
Embora os objetos, parte de um acervo cada vez maior, possam ser emprestados por docentes do Instituto, a principal oportunidade de contato com o público se dá através das exposições realizadas pela Matemateca. A primeira exposição ocorreu em 2004, na USP, e desde então tem viajado todo o país por feiras e eventos e mantido uma mostra periódica no próprio IME. “Ou a gente viajava ou mantinha as peças guardadas. E é complicado porque viajar custa caro, especialmente o transporte”, desabafa a professora Deborah Raphael, uma das coordenadoras. Um espaço físico próprio de 240 metros quadrados no novo prédio do Instituto de Matemática e Estatística já encontra-se em projeto e será uma oportunidade de ampliar o contato com o público. Com um espaço próprio garantido, as exposições não precisarão ser tão curtas, diz Deborah. Ela considera o IME o local ideal para colocar em contato professores, alunos de graduação e de pós-graduação e estudantes do ensino básico, assim como o público em geral. “O projeto foi desenvolvido com a intenção de instigar não só alunos de exatas, mas também de outras áreas, e mostrar que a matemática é mais interessante do que muitos imaginam”.
Também animado com essa nova empreitada, o professor Eduardo Colli, outro coordenador do projeto, confessa sentir um pouco de ciúmes das peças. Sobre uma exposição em 2005 na Estação Ciência, no Rio de Janeiro, ele brinca: “Não fui, já tinha fama de ser ciumento [com as peças], até mandaram uma foto para me provocar”, referindo-se a imagem de uma criança manuseando uma garrafa de Klein, um dos objetos do acervo. Esta exposição foi a primeira oportunidade de interação com o público leigo e, portanto, havia esse receio de que alguma peça acabasse quebrando.
Eduardo tem um motivo especial para sentir-se enciumado com as peças. No começo, ele próprio as confeccionava. Porém, como ele mesmo admite, os objetos eram bem rústicos e não chegaram a ser aproveitados. O acervo começou a ganhar mais corpo a partir da parceria feita com Rodolpho Zukauskas e Carlos Cuba, dois artistas com gosto pela matemática e que souberam dar forma às ideias dos professores por trás do projeto. “Tínhamos uma centena de ideias para se fazer peças, mas era difícil achar quem as fizesse”, completa Eduardo.
A Matemateca, que começou com apoio do IME e da Pró-Reitoria de Graduação da USP, hoje tem seu financiamento feito através do CNPq (Conselho Nacional para o Desenvolvimento Científico) e do Pró-Lab, que custeia aquisições de equipamentos para aulas práticas na USP. Para estreitar as relações com público externo e as escolas, recentemente o site do projeto foi reformulado e uma conta no Twitter foi criada.
Site: http://matemateca.ime.usp.br/