São Paulo (AUN - USP) - O Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME) sediou, na semana passada, palestra que procurou discutir qual o atual espaço da geometria e do desenho geométrico nas aulas de matemática. A partir de experiências em escolas públicas e particulares do país, os palestrantes Jose Luiz Pastore Mello e Luiz Márcio Imenes perceberam um cenário confuso e bagunçado quanto ao ensino destas áreas no nível básico, o que é consequência, segundo ambos, de uma má compreensão de termos e conceitos.
Geometria e desenho geométrico, ao contrário do que muitos pensam, não são sinônimos. O desenho geométrico originou-se com os antigos gregos, a partir de problemas clássicos como a construção do quadrado com a mesma área de um círculo, utilizando-se apenas uma régua e um compasso. “Essa prática está muito ligada a visão dos gregos da matemática como uma aventura do pensamento e do desenho geométrico como um jogo intelectual”, diz Pastore Mello, ao explicar que o desenho geométrico, como todo jogo, tem suas regras. Sendo assim, o foco do desenho geométrico não é a construção da figura desejada valendo-se do auxílio de diversos instrumentos de medição e desenho, mas, sim, a construção dessa figura a partir dos teoremas da geometria plana.
A geometria, por outro lado, não trabalha com essas regras. Tem sido entendida, ao menos no que diz respeito ao seu ensino na escola básica, em contraste com a aritmética. Enquanto esta se dedica aos números e às operações, aquela estuda as formas e os espaços. Esta compreensão pode levar a uma prática muito comum hoje em dia e desaprovada pelos palestrantes que consiste na separação da matemática e da geometria em duas disciplinas distintas.
“Hoje a recomendação é para que a geometria seja dada na aula de matemática, entendida na escola como campo da matemática que se relaciona com outros campos e também com outras disciplinas, entre as quais a arte”, conclui Pastore Mello, preocupado com as escolas em que professor de artes é responsável por ensinar geometria sendo que não tem formação para tal. “A disciplina de arte bem dada é fundamental para a formação das pessoas. A arte se relaciona com todas as disciplinas e, no entanto, não deve ser confundida com elas”.
Ainda sobre o ensino da geometria, Pastore Mello recomenda o uso de abordagens experimentais – dobraduras, instrumentos de desenho, construções com palitos – acompanhadas de justificativas teóricas sempre que conveniente. “Para aprender geometria o aluno precisa construir, precisa manipular coisas”, diz o palestrante, que considera um erro que depois das fases iniciais tais abordagens sejam abandonadas e consideradas infantis.
No caso do ensino de desenho geométrico, a situação é bem diferente. “A beleza e o desafio do desenho geométrico estão em suas regras rígidas”, diz Pastore Mello. Porém, para trabalhar com essas regras, o aluno deve ter um bom entendimento de teoremas e princípios geométricos que não farão sentido para uma criança de 5ª ou 6ª séries. Algum contato com o desenho geométrico, na concepção grega original, é possível e desejável no final do ensino fundamental e no ensino médio como parte do trabalho com geometria. “Só aí o aluno pode entender o espírito da coisa”.
Ao ser questionado se desenho geométrico deveria ser dado como uma disciplina separada e obrigatória na escola, Pastore Mello diz que não. “Com tanta coisa para aprender e tanta coisa para ser feita, não acho que, atualmente, seja uma prioridade”.