São Paulo (AUN - USP) - Os professores Paulo Queiroz Marques, do Instituto de Química (IQ) da USP e Afonso Rodrigues de Aquino, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), foram os convidados para um debate que ocorreu no mês de maio no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), na USP. O tema foi sobre energia nuclear e as consequências trazidas pela sua utilização.
Aquino apresentou os principais conceitos de radioatividade e os eventos que mais causaram mudanças significativas no consumo de energia no mundo. Primeiramente, em 1932 e 1973, com as crises do petróleo, quando alternativas para o combustível começaram a ser buscadas como forma de driblar o aumento do preço do barril de petróleo, que passou de US$ 1,50 a US$ 30, elevando os gastos do Brasil de US$ 450 milhões a US$ 9 bilhões por ano.
Ele defendeu a energia nuclear, que hoje representa 1,46% da fonte de energia no Brasil e abastece parte do Rio de Janeiro, como uma forma alternativa de complementar o fornecimento. “Na época [da crise], foram propostos quatro programas: a construção da hidroelétrica em Itaipu, a prospecção de petróleo em águas profundas, o programa Pró-álcool e o programa nuclear brasileiro. Esses programas eram todos uma vertente única e exclusivamente energética.”
Essa ideia se contrapõe a uma visão já um pouco ultrapassada do perigo da energia nuclear como arma, muito comum durante a Guerra Fria. “Até o Brasil redigir sua Constituição em 88, nenhum país no mundo tinha feito um programa nuclear pacífico sem que houvesse um programa nuclear bélico por trás.” Segundo o professor, esse foi um dos principais motivos para que houvesse certa desconfiança com o programa nuclear.
Apesar dessa desmitificação da energia nuclear, acidentes de grande risco continuam acontecendo, e os efeitos da radioatividade podem trazer tanto benefícios, como no caso de tratamentos de câncer, quanto malefícios, no caso de exposição indevida, o que pode causar desde queimaduras até anomalias em fetos.
Segundo Marques, o grande problema é o lixo atômico, que necessita um tratamento especial por ser formado por resíduos de elementos químicos radioativos e demoram muito tempo para se transformarem em outro elemento que não emita radiação. O Urânio-235, por exemplo, leva 7 bilhões de anos para decair para um núcleo não radioativo. “Do ponto de vista energético, ela é realmente eficiente. A dificuldade é a produção de lixo atômico, cuja deposição final não encontra no mundo todo uma solução técnica segura e definitiva.”
Ele defendeu o uso da energia nuclear no caso de países que não possuem outras alternativas. A energia nuclear é uma solução técnica para países que não dispõem de opções energéticas. É o caso do Japão, da França.”
Apesar de não ser esse o caso do Brasil, Aquino argumenta que é necessário complementar a matriz energética, para que a falta de uma não cause impactos tão significativos. “Se ficamos só com a matriz hídrica, temos uma flutuação no fornecimento de energia.”