São Paulo (AUN - USP) - Uma pesquisa conduzida pelo professor Vagner Elis do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP procura ajudar as autoridades públicas a analisar o impacto ambiental de aterros sanitários e assim medir a contaminação do solo. O estudo acontece desde 1999 e tem ajudado entidades como a Cetesb a avaliar se que depósitos de lixo são mais nocivos e tomar medidas para diminuir o impacto destes.
A pesquisa consiste em avaliar se a condutividade elétrica do solo está muito alta, o que mostra se há algum tipo de poluição. “O lixo libera um líquido em sua decomposição que é o chorume, o qual é rico em sais, sódio, cloreto, sulfato, entre outros elementos que transformam aquela solução num condutor elétrico”, explica Elis. Esses elementos são prejudiciais à saúde. Se a água das chuvas levar o chorume a mananciais o risco à saúde das populações ao redor torna-se muito alto.
O método do professor Elis consiste em colocar eletrodos em pontos de uma determinada área de terra e aplicar uma corrente. Dessa corrente resulta uma diferença de potencial, que será calculada, achando-se então a condutividade.
Questionado a respeito de resultados práticos da pesquisa o professor respondeu que recentemente houve o mapeamento das terras condutoras em um lixão em Ribeirão Preto, e desse mapeamento surgiu o interesse da Secretaria do Meio Ambiente em buscar soluções. Ele explica que o problema pode ser resolvido: “Os resíduos estão em cima da zona saturada. Então, o que está alimentando a geração de chorume é a água da chuva; eles podem fazer o dreno da água e fazer uma impermeabilização, por exemplo, jogar resíduos de construção que não seriam reaproveitados e asfalto por cima disso tudo. Então como não haveria mais um veículo para levar esse chorume como a água, a contaminação iria diminuindo aos poucos até cessar”.
Esse tipo de avaliação do solo já era realizada antes da pesquisa conduzida pelo Departamento de Geofísica do IAG, porém o método utilizado era muito mais custoso. “Se você pegar uma área que suspeita de contaminação e conduzir uma investigação como era feito antigamente, você teria que fazer uma série de furos de sondagem, tirar amostra de água e daí comparar essas análises químicas para saber que tipo de elementos você tem nisso e dizer se está contaminado ou não”.
Vários aterros em municípios pequenos já tiveram essa intervenção da Cetesb usando-se da pesquisa geofísica para verificar a contaminação do solo. Nesses municípios há uma técnica de enterramento do lixo em valas em que um buraco é aberto, tomando-se o devido cuidado para que ele não esteja próximo a lençóis freáticos, e o lixo é depositado nessa vala. Estuda-se se a contaminação nesse tipo de aterro é relevante ou se eles são realmente uma boa alternativa.
“Alguns casos mostram aterros em valas que estavam contaminados. Analisamos três que eram tidos como não-poluentes, em que um estava contaminado, o outro estava numa geologia adequada, e outro deles está em situação intermediária. Inclusive em razão disso os técnicos da Cetesb estão discutindo fazer uma impermeabilização mais adequada desses aterros ao invés de simplesmente cavar e jogar lixo dentro”, conta o professor.
O grande problema que existe segundo o professor Elis é que o contato com os geofísicos só é feito para mapear a contaminação que já ocorreu. Para ele seria necessário que os técnicos fossem acionados antes, para fazer uma previsão do impacto ambiental e ajudar na escolha do local mais apropriado para a criação do aterro.