São Paulo (AUN - USP) - No dia 1º de junho, o pesquisador Renato Dagnino realizou uma palestra sobre o panorama do investimento em pesquisa no Brasil. A exposição fez parte da segunda mesa-redonda do seminário Metrópoles: Política, Planejamento e Gestão em Saúde e Ambiente, que aconteceu no auditório Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP) e que teve como tema “Desafios da gestão – dos sistemas de informação à participação social”.
Dagnino é formado em engenharia metalúrgica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tem mestrado e doutorado na área de economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pós-doutorado pela Universidade de Sussex. Hoje, é professor titular da Unicamp e professor visitante em diversas universidades latino-americanas.
Segundo o pesquisador, há duas posições extremas e opostas sobre o tema: a posição positivista, liberal e moderna, que se baseia no conceito de “progresso”; e a posição socialista.
Para os socialistas, a tecnologia faz parte do processo de alienação do trabalhador. Nesse caso, a única solução possível é a revolução. “A União Soviética, entretanto, que foi um caso de apropriação da tecnologia capitalista para a construção do socialismo, claramente não deu certo”, explica o pesquisador.
“Para os otimistas, não importa que 49% das pesquisas sejam feitas em multinacionais – a tecnociência é produzida em busca da verdade”, afirma Dagnino. De acordo com esse ponto de vista, a ética só pode ser aplicada a posteriori, isto é, após o processo de pesquisa em si.
Hoje em dia, 70% do que se investe em pesquisas é originado em empresas, e destes, 70% é originado em multinacionais. A visão tradicional é a de que esse investimento resultaria em melhorias para os consumidores, porém isso não é o que se verifica: se a empresa for inovadora e competitiva, gerará crescimento, empregos, produtos bons e baratos e desenvolvimento.
Entretanto, não é isso que se verifica. A maior parte desse dinheiro é direcionada para um de dois fins: aumentar a produtividade da empresa – que cresce principalmente pela eliminação da necessidade de funcionários – e produzir produtos que se tornam obsoletos cada vez mais rápido e induzir em seu público um consumismo exagerado.
A solução, segundo Dagnino, está numa nova postura: a adequação sociotécnica – uma postura engajada e otimista.
“A tecnociência, segundo essa visão, é uma construção social que deve ser reprojetada de acordo com valores alternativos às instituições em que ela é produzida”, afirma o pesquisador. Só então será possível evitar que a pesquisa seja ferramenta de exclusão e segregação social.