São Paulo (AUN - USP) - “Há um problema na educação brasileira, que é o não-cumprimento total do programa escolar. Isso deixa alguns assuntos, como a energia nuclear, sem serem comentados em sala de aula”, afirma o professor Afonso Rodrigues de Aquino, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), justificando a má fama da energia nuclear junto a boa parte da população. Para ele, “a energia nuclear é desconhecida, e o desconhecido gera medo”. Por isso, e também por ser, no caso brasileiro, desenvolvida com dinheiro público, ela precisa legitimar suas funções, “mostrar que existe gente séria em pesquisas nucleares”.
Após a crise nuclear na usina japonesa de Fukushima, em março, a área voltou a ser atacada. Porém, Aquino ressalta a mudança de foco das críticas em relação a acidentes anteriores. “Na época de Chernobyl, a energia nuclear como um todo foi atacada. Já nessa crise no Japão, houve uma preocupação em questionar apenas a produção de energia através de reatores, preservando-se, assim, outras utilizações da energia nuclear, como por exemplo, na área médica”, afirma. Ele ainda elogia a postura da mídia em relação ao caso. “Em questões ambientais, a imprensa colabora tanto quanto ou mais que a educação formal”.
O professor diz que para deixar de lado o papel de vilã internacional, as pesquisas em energia nuclear devem divulgar seus avanços com transparência e mostrar que estão caminhando para uma segurança cada vez maior. “Devemos, por exemplo, mostrar a segurança das usinas PWR (reator a água pressurizada), como Angras I e II. Elas são diferentes das BWR (reator a água fervente), como a de Fukushima”, diz, lembrando que as usinas Angra I e II são as únicas edificações brasileiras capazes de suportar grandes terremotos. “Não sobraria nenhum prédio na avenida Paulista, mas as usinas resistiriam”.
Ainda segundo Aquino, “todo conhecimento humano é aplicado na energia nuclear, assim como na indústria aeronáutica, naval, automobilística”, mas isso não impede que ocorram acidentes. O problema é o tratamento dado para a energia nuclear. “Ocorreram pelo menos três grandes acidentes aéreos no Brasil recentemente, mas em nenhum momento se cogitou parar de fabricar aviões ou de usá-los como transporte”, afirma.
Para ele, essa postura é uma questão política. No início do século 20, os maiores países produtores de petróleo eram nações econômica e politicamente fracas. Portanto, era fácil de colonizá-las e utilizar seus recursos naturais. Já no caso do urânio, matéria-prima principal da energia nuclear, os maiores produtores são África do Sul, Austrália, Brasil, EUA e Rússia. “São países mais organizados, bem estruturados. Não podem ser colonizados de novo. Por isso, há uma pressão internacional contra a energia nuclear”, justifica Aquino.
Importância da energia nuclear
Segundo o professor, as energias firmes, como a nuclear e a termelétrica, por poderem ser produzidas ininterruptamente, não podem ser deixadas de lado. Isso porque energias como a hidrelétrica (matriz energética brasileira), eólica e solar têm produção sazonal, o que impede que elas supram 100% da demanda. As energias firmes suprem essa diferença. “Mas as termelétricas emitem gases de efeito estufa, que afetam o ciclo das chuvas e, consequentemente, comprometem a produção de energia hidrelétrica, por exemplo”, afirma Aquino. Assim, a importância da energia nuclear seria maior.
Por fim, Aquino também diz que as mudanças tecnológicas são feitas por etapas. “Assim como passamos pelas lamparinas para chega à tecnologia LED, devemos passar pela energia nuclear. Ela não é a solução, mas sim uma etapa importante no caminho para a solução”.