ISSN 2359-5191

05/07/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 62 - Meio Ambiente - Instituto de Biociências
Secretário de energia de SP fala no IB sobre os desafios e pesquisas do ramo
Com a palestra “As políticas públicas para o setor energético do Estado de São Paulo”, José Aníbal abriu a Semana do Meio Ambiente, que teve como tema Matrizes Energéticas

São Paulo (AUN - USP) - Estado mais populoso e industrializado do Brasil, São Paulo consome cerca de 30% de toda a energia produzida em território nacional. Todo o planejamento estratégico das políticas energéticas estaduais passa pela alçada da Secretaria de Energia do Estado de São Paulo. No dia 6 de junho, o secretário José Aníbal falou sobre as duas principais ações do governo para o setor: reestruturar a matriz dos transportes e investir em fontes de “energia limpa”. Segundo ele, falar sobre “energia é um desafio imenso”.

A questão dos transportes
Uma das propostas apresentadas por Aníbal durante a palestra foi a substituição do óleo diesel por biodiesel, que polui até 80% menos do que o primeiro, como combustível utilizado nos motores dos ônibus. Segundo o secretário, será necessária “uma grande intervenção para substituir o combustível dos 30 mil ônibus que circulam na região metropolitana de São Paulo”. Ele ainda contou que a Petrobras perdeu o “selo verde” concedido pela bolsa de valores de Nova York a empresas que respeitam o meio ambiente. Tal fato aconteceu porque a empresa não cumpriu o compromisso de diminuir a quantidade material particulado emitido através da queima do diesel, que é de 500 partes por um milhão de unidades (ppm) e deveria ter sido reduzido para 50 ppm. Para efeitos de comparação, o limite máximo permitido de material particulado liberado durante a queima de combustíveis na Europa é de 10 ppm.

Aníbal também falou sobre a construção de um álcoolduto, que ligará as cidades de Ribeirão Preto, pólo agroindustrial, à Paulínia, pólo petroquímico. A obra abrangerá uma extensão total de 202 quilômetros. De acordo com ele, o álcoolduto também fará conexões com a hidrovia do Tietê, que escoará o etanol produzido na região de Araçatuba. Por ano, os dutos terão capacidade de transportar aproximadamente 12 bilhões de litros de álcool, o que tiraria 80 mil caminhões das estradas.

O secretário ainda salientou a importância de se investir na construção de transportes de massa como trens, metrôs e ferrovias e deu uma boa notícia. Um levantamento divulgado recentemente indicou que, no ano de 2010, 59% da frota de automóveis do Estado já usava etanol como combustível.

“Energia verde, renovável e limpa”
“O potencial hídrico de São Paulo esgotou, já não temos como construir grandes barragens”, disse Aníbal. Nesse contexto, a solução é procurar fontes alternativas de energia, uma delas envolve combustíveis fósseis, descartados por serem altamente poluentes, a outra relaciona-se ao carvão, dificilmente encontrado em território nacional. “O bagaço de cana é a fonte de energia alternativa à hídrica mais expressiva que nós podemos encontrar no Estado”, concluiu.

Partindo desse pressuposto, o governo estadual anunciou, no mesmo dia em que foi realizada a palestra (6 de junho), a desoneração do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para a aquisição de máquinas e equipamentos nas usinas de açúcar e de álcool que tenham a intenção de gerar energia elétrica através bagaço de cana. A medida é um estímulo à modernização dessas usinas.

O bagaço de cana inicialmente é moído e, depois, queimado, gerando um vapor de alta pressão, que pode ser usado para o funcionamento da própria usina ou para a geração de energia. De acordo com o secretário, algumas dessas usinas já produzem 27 megawatts (MW) de energia. “Essa energia é verde, renovável e limpa”, ressaltou. Com essa ação, espera-se gerar um excedente de 5,5 mil MW de energia nos próximos cinco anos, quantia maior do que a média gerada por Belo Monte (que será de quatro mil MW).

Além do bagaço, outra biomassa pode propiciar uma geração ainda maior de energia: trata-se da palha da cana-de-açúcar. O governo do Estado proibiu a queima da cana a partir do ano de 2014. Além disso, estão sendo desenvolvidas máquinas que, durante a colheita, separam a palha do restante da cana. Segundo Aníbal, a vantagem da palha sobre o bagaço é que a geração de energia utilizando o último só funciona durante oito meses, mais precisamente de abril a novembro, período de colheita. “Quando as pesquisas derem resultado e nós tivermos a palha, obteremos energia durante os 12 meses do ano”.

Energia a partir do lixo
O secretário ainda mencionou uma visita à planta de uma usina que gera energia a partir da queima do lixo na cidade de Paris. O processo queima cerca de 1.500 toneladas de resíduos por dia e apresenta emissão de gases próxima a zero, gerando uma média energética de cerca de 500 MW. Segundo Aníbal, há planos para construir termelétricas que funcionem nesse mesmo formato no Estado, usando, para isso, o lixo seco.

A legislação atual já indica certa preocupação quanto a alta produção de lixo em São Paulo. De acordo com Aníbal, só a capital produz 11 mil toneladas diárias. Prova disso é a criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que culminou na instauração da Lei 12.305/10. A Lei tem como meta a erradicação de todos os lixões a céu aberto até agosto de 2014 e sua consequente substituição por aterros sanitários.

Fontes alternativas
Aníbal também falou sobre outras fontes de energia renovável. De acordo com ele, a secretaria está realizando um levantamento do potencial eólico do Estado. A ideia é criar um mapa que indique quais são os locais viáveis para a construção de parques que utilizem a força dos ventos como fonte de energia. O Brasil é um dos maiores produtores de pás para usinas eólicas, sendo que a cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo, sedia uma importante fábrica do setor.

Outra alternativa citada pelo secretário foi a energia solar. Segundo ele, pesquisadores alemães desenvolveram um “relógio inteligente”, que apenas entra na rede em momentos em que há picos de energia. Esses relógios funcionam através de células fotovoltaicas (dispositivos capazes de transformar a energia luminosa proveniente do Sol em energia elétrica). A China já constrói fachadas de prédios com essas células. No Estado de São Paulo, um estudo espanhol indicou que a cidade de Votuporanga é a mais indicada para a instalação de placas fotovoltaicas, já que recebe maior intensidade luminosa.

Desenvolvimento de pesquisas
“O universo de geração de energia será onde mais se fará pesquisas nos próximos anos.” De acordo com o secretário, alguns avanços já estão feitos nesse sentido. Técnicos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) estão realizando estudos para gaseificar o etanol. Aníbal também citou pesquisas relativas à extração de gás do vinhodo, um subproduto da produção do álcool. O objetivo é aumentar elementos de uma matriz energética mais limpa.

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