São Paulo (AUN - USP) - “O que nos espera alí é um Belo Monte de problemas”, com essas palavras Ildo Sauer, engenheiro, ex-diretor de gás e energia da Petrobras e autor do livro A Reconstrução do Setor Elétrico Brasileiro, resumiu suas impressões sobre a hidrelétrica que deverá entrar em funcionamento no ano de 2015 no Estado do Pará. Com uma potência instalada de 11.233 megawatts (MW), a que será a maior hidrelétrica inteiramente nacional – já que Itaipu está localizada na fronteira com o Paraguai – e terceira maior usina do mundo (atrás apenas da chinesa Três Gargantas e da própria Itaipu), tem sua criação marcada por inúmeras polêmicas.
Segundo Sauer, a construção da hidrelétrica de Belo Monte, assim como as de Santo Antônio e Jirau, localizadas no rio Madeira, no Estado de Rondônia, poderiam ter sido evitadas, se o governo tivesse adotado as políticas energéticas estipulada para o período de 2003 a 2005. “Se o dever de casa tivesse sido feito, poderíamos evitar essas controvérsias”, diz. Sauer ainda dirigiu algumas críticas a atual presidente Dilma Rousseff, ministra de Minas e Energia durante o período.
A política a qual ele se refere tinha como uma de suas metas a realização de um inventário de todas as bacias hidrográficas brasileiras ainda não aproveitadas para a geração de energia. Ela foi desenvolvida após os apagões dos anos 2000 e 2001, causados pela falta de chuva que fez com que o nível dos reservatórios baixasse.
O Brasil utiliza apenas cerca de um terço do seu potencial hidrelétrico. Na opinião do diretor do IEE, ao optar pela construção da hidrelétrica do Xingu, o Governo Federal deixa de considerar outras opções de menor impacto social e ambientais.
Impactos e polêmicas de Belo Monte Maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a hidrelétrica custará aos cofres públicos R$ 19 bilhões. O empréstimo de R$ 13,5 bilhões, concedido pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) para viabilização das obras, é o segundo maior de sua história. No entanto, apesar das altas cifras, quando comparada a exploração de outras matrizes energéticas, Belo Monte pode ser considerada uma obra barata. “O meu temor é que, caso o orçamento não se cumpra, a diferença tenha que sair dos cofres da Eletrobras ou mesmo do BNDES”, disse. “Outros custos a serem considerados são os danos aos ecossistemas e às populações indígenas”, completou.
De acordo com Sauer, o projeto de Belo Monte não dimensiona suficientemente os fatores socioambientais que surgirão como consequências da obra. Alguns ambientalistas defendem que a construção da hidrelétrica pode afetar o curso do rio Xingu, abalando profundamente o ecossistema local. O diretor do IEE chegou a fazer uma alusão à usina de Balbina, localizada na Bacia Amazônica, considerada por ele “o maior desastre ambiental em termos de ocupação”.
Além disso, a implantação da usina também pode gerar problemas para centenas populações indígenas e ribeirinhas. A bacia do Xingu é habitada por 24 etnias distribuídas em 30 Terras Indígenas (TIs) que poderiam ser afetadas direta ou indiretamente pelos possíveis impactos ambientais decorrentes da construção. Estima-se que Belo Monte poderá desabrigar cerca de 30 mil pessoas somente na região de Altamira, no Estado paraense. Por esses motivos, o projeto tem sido alvo de fortes críticas por parte de ambientalistas, lideranças de tribos de índios e estudiosos.
No dia primeiro de fevereiro de 2010, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu a licença ambiental para a construção de Belo Monte. O documento, que autorizava a derrubada de 238 hectares de vegetação para a instalação de um acampamento, um canteiro de obras e uma área de estoque de madeira, foi alvo de severos questionamentos. Na opinião de Sauer, os técnicos foram pressionados a emitirem-na, com o intuito de apressar o início das obras. Atualmente, a Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado Federal (CI) estuda realizar uma audiência pública para discutir a concessão dessa licença.
Energia com preço competitivo
Não haveria tanta insistência na construção de Belo Monte, se o projeto não apresentasse nenhum benefício para o país. Uma das maiores vantagens da hidrelétrica é o preço competitivo da energia que lá será produzida: R$ 78 por megawatt-hora (MWh) – enquanto o teto estabelecido pelo Governo Federal é de R$ 83 por MWh.
Dados técnicos
Quando entrar em operação, no ano de 2015, a hidrelétrica funcionará com uma média de 4,5 mil MW por dia, cerca de 40% de sua potência instalada de 11.233 MW, suficiente uma região com 26 milhões de pessoas com padrão de consumo elevado. O lago da usina terá uma área alagada que, de acordo com Sauer, é relativamente pequena, contando com 516 quilômetros quadrados.