São Paulo (AUN - USP) - O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) desenvolve diversas pesquisas que envolvem estudo de materiais radioativos. Como todo processo feito pelo homem, isso gera resíduos, só que nesse caso, resíduos radioativos. Para tratar esses materiais existe no Ipen a Gerência de Rejeitos Radioativos. “Somos responsáveis pelo recebimento, tratamento e armazenamento de rejeitos. Recebemos rejeitos principalmente do estado de São Paulo e do Sul do país”, afirma Julio Marumo, pesquisador do Instituto.
Segundo ele, um dos principais rejeitos radioativos são as fontes seladas, pequenos objetos com radioatividade concentrada, usadas principalmente em radioterapias ou em atividades industriais de controle de qualidade. “Quando elas não têm mais atividade suficiente para sua utilização, mas ainda são nocivas ao ambiente, elas são mandadas para cá”, conta.
Outros rejeitos bastante comuns são os para-raios radioativos. A sua fabricação é proibida desde 1989, quando se descobriu que sua eficiência não era melhor que a dos para-raios tradicionais. Porém, alguns antigos ainda estão em uso. Quando são substituídos, eles devem ser levados para tratamento adequado. É fácil distinguir os dois tipos de para-raios pois o radioativo possui formato de discos sobrepostos, enquanto que o tradicional possui formato de pontas.
Nos para-raios o material radioativo é apenas uma pequenina parte do objeto. Na Gerência de Rejeitos Radioativos, os para-raios radioativos são desmontados manualmente. Eles são colocados dentro de um compartimento fechado com luvas que possibilitam uma pessoa que esteja fora da cápsula manuseie e desmonte os objetos que estiverem dentro dela. “Essas luvas evitam que nós sejamos contaminados [enquanto desmontamos os para-raios]”, explica Marumo.
Outros rejeitos radioativos importantes são os rejeitos sólidos e líquidos provenientes de pesquisas feitas no Ipen e na USP, e os detectores de fumaça radioativos. “Esses rejeitos recebem tratamento e são armazenados temporariamente no nosso depósito. Isso porque o repositório nacional ainda não está pronto. Assim que tivermos um eles serão transferidos para lá. Já há um plano de construção com término em 2015, mas sem localização divulgada”, conta o pesquisador.
A Gerência de Rejeitos Radioativos do Ipen foi criada em 1983. No início, o volume de rejeitos não era tão grande como atualmente. Segundo Marumo, isso começou a mudar após o acidente com Césio-137 em Goiânia, em 1987. “Não por causa do acidente, mas pela conscientização das pessoas. E também pela obrigatoriedade do envio dos para-raios radioativos, que foi logo depois do acidente também”, ressalta.
Um dos principais problemas do Ipen no tratamento de rejeitos radioativos é o armazenamento. O volume de rejeitos é muito alto. Por isso, algumas linhas de pesquisa são desenvolvidas para solucionar esse problema. Uma das linhas de pesquisa é a de tratamento de rejeitos líquidos, que busca tratar rejeitos líquidos através de material orgânico, reduzindo, assim, o volume de rejeito.
Outra linha é a de durabilidade do cimento, que busca desenvolver poços profundos envoltos nesse material para armazenar definitivamente as fontes seladas. Por fim, existe a linha de otimização, que busca detectar quais rejeitos radioativos já decaíram o suficiente para serem descartados como resíduos não radioativos.
Existe também as pesquisas em caracterização de rejeitos. Os rejeitos devem ser caracterizados em termos de atividade isotópica, para se observar quais radionuclídeos estão presentes nele, forma física e forma química. Essas informações são utilizadas para criação de um inventário dos materiais. “Acontece que temos alguns rejeitos históricos aqui que não foram caracterizados completamente por causa da dificuldade de se fazer isso. Existe uma linha de pesquisa, então, que está desenvolvendo métodos analíticos para caracterizar esses rejeitos”, explica Marumo. O trabalho é tese de doutorado da pesquisadora Maria Elisa Tadei, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). “A idéia é que essa metodologia seja, no futuro, incorporada à rotina de estudos do Ipen”.