São Paulo (AUN - USP) - A menos de dois dias para a realização da Peruada (a festa da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo ocorre sempre na terceira sexta-feira de outubro) o Peru, astro principal do evento, corre sérios riscos de ter os limites de seu reinado reduzidos. Isso porque Eduardo César Silveira Vitta Marchi, diretor da faculdade, mantém sua decisão de não permitir sua realização no interior do Pátio da São Francisco, local onde tradicionalmente acontece.
Os motivos alegados são os riscos de danos ao seu patrimônio histórico, já que o prédio foi tombado no final de 2002 pelo Condephaat. Porém, os estudantes e membros do Centro Acadêmico XI de Agosto dizem que no ano passado apenas alguns bancos de madeira e portas de banheiro foram quebrados, mas que a entidade estudantil se encarregou de financiar os reparos.
Eles não abrem mão da realização da festa no interior da faculdade, pois afirmam que isso facilita a integração entre os alunos, sobretudo calouros e veteranos, além de ser um diferencial dos eventos organizados pela São Francisco.
Buscando encontrar uma solução conciliatória, pediram um parecer do Condephaat, que, segundo afirmam, apresentou apenas restrições à instalação do som dentro do edifício. Além de cumprir esta recomendação, pretendem tomar outras medidas, caso Marchi concorde em voltar atrás em sua decisão. Prometem reduzir o número de pessoas que circulará na faculdade, distribuindo pulseiras de acesso somente aos membros da São Francisco e em número máximo de 2,8 mil, e providenciar telas de proteção aos vitrais. Os demais participantes teriam de permanecer no largo São Francisco.
O diretor foi procurado no dia 15 de outubro para apresentar sua versão, mas não estava na faculdade. No entanto, sua secretaria transmitiu o ofício do Condephaat como sendo esclarecedor de sua posição. “Houve a conclusão consensual neste órgão preservacionista de que, pela própria natureza da festa, que é expressão maior da liberdade acadêmica – de crítica, de conduta, de pregação do valor mesmo da liberdade – todo controle lhe é indesejável, talvez impossível de ser realizado a contento. Ademais, já pelas suas dimensões, já pelos enormes esforços requeridos para que as diversas formas de risco sejam evitadas, a festividade deveria contar, neste ano especial, com a colaboração ativa do Centro Acadêmico XI de Agosto, no sentido de que se retomasse, ao menos em caráter excepcional, a velha tradição de que a “Peruada” se organizasse em torno à Tribuna Livre, em pleno Território Livre do velho Largo.”
O trajeto da festa, quando os participantes seguem, fantasiados, um trio elétrico, será mantido. Sairão do largo e passarão pela rua Líbero Badaró, viaduto do Chá, Praça Patriarca, teatro Municipal e pelas avenidas São João, Ipiranga, São Luís e Maria Paula. Em frente à Câmara Municipal, próxima ao parque do Ibirapuera, haverá uma parada para pronunciamentos.
Quanto à realização ou não no interior da faculdade, ao que tudo indica, o final da história só será conhecido no dia 17, mesmo. Mas os membros do centro prometem que a Peruada se realizará de qualquer forma.
Histórico
A festa surgiu em 1941, quando alguns alunos roubaram os perus criados por um professor intransigente da faculdade, que pretendia expô-los numa feira em São Paulo. Em algumas ocasiões, a Peruada adquiriu uma conotação política. Em 1999 o tema foi “Meu peru Pitta e borda na máfia da propina”, um protesto à série de escândalos envolvendo o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.
Este ano, a festa terá um elemento de solidariedade. Será exigido que cada aluno traga um quilo de alimento não perecível. Dessa forma, esperam arrecadar cerca de 2,5 toneladas de comida para serem distribuídas a entidades assistenciais. A estrela maior do evento, o peru, será, posteriormente, doado a alguma pessoa que se comprometa a cuidar do animal. Os membros do Centro Acadêmico não souberam dar detalhes sobre a forma desse tratamento e nem onde será feito.