São Paulo (AUN - USP) - A professora da Escola de Artes Ciências e Humanidades (EACH) da USP está conduzindo diversas pesquisas relacionadas ao racismo desde que entrou na USP. Ela acredita que o racismo ainda existe no Brasil, porque apesar de a lei ser contra, enquanto perdurar o medo do igual, daquele que conquistou direitos como os nossos, ainda haverá racismo.
Sua pesquisa é bastante extensa e aborda diversas questões do negro e a discriminação por ele sofrida. Em seu texto Selvagens, Exóticos, Demoníacos. Idéias e Imagens sobre uma Gente de Cor Preta ela aborda, por exemplo, a questão de como havia interesse dos europeus em justificar a pele mais escura dos povos africanos: “Argumentos de ordem teológica se perfilavam a argumentos pseudocientíficos e filosóficos. Os negros teriam a pele escura devido à forte influência do sol nas regiões habitadas por eles? Seriam tão escuros por sua descendência de Caim que, como castigo, teve sua face enegrecida por Deus após matar Abel? Ou pela maldição de Noé sobre Cam do qual todos os negros descenderiam? Seriam negros por causa da água e dos alimentos que os nutriam, encontrado somente na África?”.
Ela explica que o racismo é “a projeção que se faz de todas as características e valores negativos que os humanos possuem em um outro (o negro, o judeu) que passariam a representar toda a negatividade”.
Em outro texto ela conta que houve pouca pesquisa sobre o racismo na perspectiva filosófica. “Acredita-se que seria atributo da filosofia pensar idéias e conceitos universais e atemporais formulados e encadeados dentro das obras dos filósofos. E o negro (os negros), sabe-se, são pessoas, indivíduos, homens e, portanto, melhor compreendidos se estudados pelas ciências que tratam de homens, indivíduos, quer na história, quer na vida social”.
A filosofia, contudo já foi usada para justificar o racismo. Gislene conta que durante a Idade Média acreditou-se que a cor dos negros era devida ao contato excessivo com a terra. Assim o negro estaria mais ligado à terra, e conseqüentemente às coisas mundanas, sendo menos apto a enxergar as idéias ou verdades puras para as quais o homem deveria olhar despido de seu corpo e das coisas terrenas, segundo a filosofia de Platão. É daí, talvez, que tenha surgido a crença na inferioridade intelectual das pessoas de cor.
O racismo entrou muito em pauta na mídia após as polêmicas declarações do deputado Jair Bolsonaro ao programa CQC. Questionada sobre o assunto a professora foi direta e severa: “Não penso que valha a pena investir meu tempo discutindo esse assunto”.