São Paulo (AUN - USP) - Com a finalidade de conhecer mais sobre os cnidários medusoides, grupo do qual fazem parte as águas-vivas, uma equipe coordenada pelo professor André Carrara Morandini deu início, em agosto de 2010, a um projeto de catalogação e identificação de espécies presentes na Baixada Santista apoiado pelo programa Biota Fapesp. O estudo tem como objetivo a geração de novos conhecimentos sobre os ciclos de vida e padrões reprodutivos desses animais, além de buscar conhecer mais sobre a sazonalidade desses, ou seja, em quais meses do ano ocorre o aparecimento dessas espécies de águas-vivas em maior abundância. Além disso, a equipe de pesquisadores também conta com a participação de pesquisadores argentinos e alemães.
“O projeto também possui um aspecto social”, conta Morandini. Segundo ele, ao estudar os padrões de ocorrência desses cnidários, é possível estipular ações de prevenção aos problemas causados devido as suas explosões populacionais, chamadas de blooms (do inglês florescimento), que podem ser gerados por particularidades do ciclo de vida desses animais ou pela interferência de fatores ambientais. Esses transtornos incluem entraves à atividade pesqueira da região e também se relacionam à ocorrência de acidentes. As águas-vivas possuem um tipo celular urticante chamado de cnidócito, que, através dos nematocistos, estruturas semelhantes a um arpão com espinhos, liberam toxinas. Essas substâncias, ao entrarem em contato com a pele, produzem dor e sensação de queimadura.
Para a realização das coletas, os pesquisadores acompanham os trabalhos de um único pescador da cidade do Guarujá e utilizam uma embarcação artesanal. “As coletas são sempre feitas na mesma praia e no mesmo lugar, para que possamos estabelecer critérios de comparação”, explica Morandini. Depois de recolhidas com o auxílio de duas redes de pesca, que são arrastadas sobre o fundo do mar, e uma rede de plâncton (usada para o recolhimento das espécies menores), os animais encontrados são identificados, pesados e medidos.
O coordenador do projeto conta que desde que as coletas foram iniciadas, em outubro de 2010, ainda não houve nenhum mês em que o número de espécies coletadas tenha sido consideravelmente maior. No entanto, é possível saber, através de outros estudos, que o aparecimento de medusas é maior, tanto em tamanho, quanto em quantidade, nos meses de primavera e verão.
De acordo com Morandini, para chegar a resultados conclusivos é necessário que as coletas sejam realizadas em um período mínimo de, pelo menos, três anos. “As coletas podem ser feitas em um ano que choveu mais, fez mais calor ou frio, e isso pode influenciar nesse número”, explica o biólogo. Ele ainda complementa: “Caso sejam dois anos, pode acontecer de termos muitos animais recolhidos em um ano e, no outro, poucos. O ideal é coletarmos durante no mínimo três anos para que se obtenha um desempate”.
Pólipo e medusa
Os cnidários possuem polimorfismo, ou seja, possuem duas estruturas corporais: pólipo e medusa. Os primeiros são sésseis, ou seja, vivem fixos a um substrato, enquanto as medusas são livres e natantes. Durante seu ciclo reprodutivo, alguns cnidários apresentam metagênese, ou seja, uma fase reprodutiva assexuada, representada pela fase de pólipo, e outra sexuada, da qual os representantes são as medusas. De acordo com Morandini, as ações do homem sobre o ambiente marinho têm causado profundas influências sobre a fase de pólipo, uma vez que com a construção de cais e naufrágios, há o aumento de substratos para que eles se fixem.
Diferenças entre medusas e caravelas
Apesar de serem tidas por muitos como sinônimos, caravelas e medusas são animais com características corporais bem diversas. Caravelas são colônias de pólipos que possuem a estrutura corporal com variadas especializações, como digestão e absorção de alimento, defesa, movimentação e reprodução assexuada.