São Paulo (AUN - USP) - Estudo do Centro de Química e Meio Ambiente (CQMA) do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) mostra que a maior parte da poluição da água dos estuário de Santos e de São Vicente, no litoral de São Paulo, é causada pela queima de combustíveis. As análises foram feitas entre os anos de 2006 e 2007.
O objetivo do trabalho era identificar as fontes de contaminação de dois estuários da Baixada Santista. O método de pesquisa aplicado foi inédito. Foram utilizadas esferas de diatomito, um sedimento poroso, para adsorver moléculas de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) da água. A adsorção é a adesão de moléculas de um fluido a uma superfície sólida.
As esferas foram colocadas em diversas profundidades e ficaram imersas por 40 dias. Segundo Nilce Ortiz, pesquisadora do Ipen, isso cria uma “memória da contaminação do estuário nesse período”, além de fazer o perfil da contaminação em toda a coluna d’água, diferentemente dos processos tradicionais. Outra diferença importante desse tipo de processo é que a análise é feita no ambiente, enquanto que o tradicional faz um estudo em laboratório de uma amostra retirada do local observado. “O método tradicional pode não representar a realidade da contaminação. Pode-se pegar uma amostra em que os poluentes estejam mais diluídos, por exemplo”, diz a pesquisadora.
Os HPAs são substâncias indicativas do tipo de poluição presente em determinada área. “Existem dez compostos básicos de HPAs. Os mais pesados são provenientes do despejo, geralmente industrial. Já os mais leves são resíduos atmosféricos, provenientes da queima de combustíveis”, afirma Nilce. Na água, os HPAs pesados são mais encontrados no fundo, enquanto os leves são encontrados mais próximos à superfície. Na água dos estuários, foram encontrados mais HPAs leves que os pesados. “Mas pode ser que eles [os pesados] estejam precipitados no sedimento do fundo do mar devido ao aumento do PH da água”, explica.
Problemas da técnica
A técnica utilizada no estudo dos estuários de Santos e São Vicente foi, posteriormente, utilizada em outros estudos, mas, segundo Nilce, apresentou um problema. “Ela não pode ser aplicada em lugares muito poluídos. Por exemplo, quando a utilizamos no córrego Pirajussara ela não foi efetiva. Formavam-se placas de óleo queimado que se aderiam às esferas de diatomito, anulando, assim, a pesquisa”, afirma. O estudo do Pirajussara foi feito por Evelyn Godoi como parte de seu mestrado Monitoramento de água superficial densamente poluída - o Córrego Pirajussara, região metropolitana de São Paulo, Brasil, defendido no Ipen em 2008. O córrego Pirajussara nasce em Embu das Artes e corre pela região Oeste de São Paulo, passando pela Cidade Universitária e desaguando no rio Pinheiros.
A pesquisa Estudo de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos nos estuários de Santos e São Vicente – SP utilizando diatomito como material adsorvente foi desenvolvida por Lilian Polakiewicz como dissertação de mestrado, defendida em 2008 sob orientação de Maria Aparecida Faustino Pires, gerente do CQMA, e co-orientação de Nilce Ortiz.