São Paulo (AUN - USP) - O Grupo de Estudos e Pesquisa em História Econômica (Hermes & Clio) da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP realizou mais um seminário sobre história econômica no dia 15 de junho, às 11h30, na FEA. Desta vez, o professor Carlos Alberto Medeiros Lima, da Universidade Federal do Paraná foi o convidado e discorreu sobre o tema “A cana, o café, os alimentos e o tráfico ilegal de escravos para a Província de São Paulo”. O responsável pelo evento foi o professor José Flávio Motta.
O objetivo da pesquisa foi avaliar as características de demanda por escravos, especialmente no decorrer da época da ilegalidade do tráfico negreiro, a partir de comparações entre os registros de batismo. Com base em autores como Meltis, Miller, Fogel e Engerman e dados do censo de 1850 sobre as taxas de mortalidade específicas por idade, o professor pode realizar alguns exercícios tendo como referência as localidades paulistas.
De acordo com Lima, muitos dados eram diferentes entre as províncias. Em Capivari, havia registro quase completo entre 1840 e 1849 dos batismos de escravos na região. Porém, em Limeira, menos que um terço da população de escravos era batizada. Em Rio Claro, na década de 1820, apenas um quarto foi batizada. Uma das explicações para tais desavenças foi a imigração de proprietários. Entretanto, apenas esse fato não preenche as lacunas. Segundo o professor, uma possível explicação seriam as disputas de ordem política ao redor da importação de escravos.
O professor avaliou as localidades segundo a produção de cana e de café. Segundo ele, a demanda por escravos em canaviais era maior que em áreas de produção de café. Porém, a demanda por açúcar nunca era satisfeita, devido à grande mortalidade de escravos que ocorria por conta do trabalho pesado, à baixa reprodução e às especificidades das áreas de cultivo. O docente utilizou como exemplo comparações entre o Vale do Paraíba e o Oeste Paulista. Em 1804, no Vale do Paraíba – que se dedicava à produção de café – havia cerca de oito mil escravos. Já no Oeste Paulista - dedicado à produção de cana-de-açúcar -, havia 3.500 escravos. Porém, em 1929, havia 18500 escravos no Vale do Paraíba e 14.500 no Oeste Paulista, o que evidencia que o número de escravos crescia muito mais rapidamente em áreas de produção de cana.
Em 1940, com a concorrência cubana, associada à depressão na Inglaterra e às flutuações no Estados Unidos, a produção de cana caiu. Nesta época, o café pode se tornou o demandante decisivo dos escravos provenientes do Velho Mundo. Mas a cana continuou manifestando sua tradicional letalidade e sua intimidade com o tráfico de escravos. Porém, em 1850, com a aceleração da passagem da cana para o café, no Oeste, houve estrangulamento da oferta de africanos, pois a produção de café exigia menos escravos e a atividade matava mais devagar. De acordo com o professor, o sexo também auxilia a avaliar a demanda de escravos segundo as atividades executadas. Segundo ele, antes da ilegalidade, a diferença entre o número de homens e mulheres era grande. Já durante a época da ilegalidade do tráfico, as razões entre o sexo feminino e masculino foram menores, ou seja, a participação das mulheres aumentou no período.