ISSN 2359-5191

15/07/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 70 - Educação - Faculdade de Odontologia
Núcleo de Teleodontologia busca incorporar o ensino mediado por tecnologia ao ambiente acadêmico

São Paulo (AUN - USP) - O avanço avassalador das plataformas digitais e novas mídias marcou uma significativa alteração nas formas de relação social. Frente a isso, a educação também encara novos desafios, especialmente o de integrar a sala de aula a esse novo ambiente midiático. Nessa perspectiva, surge o Núcleo de Teleodontologia da Faculdade de Odontologia da USP (FO), que visa à troca de informações, via web, dos mais diversos assuntos relacionados à Odontologia, através de ações de teleducação e teleassistência. Em breve, o Núcleo, que conta até com uma disciplina mediada pelo Facebook, será ampliado. Entre os projetos para o novo espaço, destacam-se uma sala para defesa de tese com professor a distância e um centro de produção digital.

A iniciativa
O projeto piloto do Programa Telessaúde Brasil teve início em 2005, ainda embrionário, com o apoio da disciplina de Telemedicina do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP (FM). Em 2007, a equipe da Odontologia foi convidada a construir o Núcleo de Teleodontologia, inaugurado em agosto de 2008, na FO.

O primeiro trabalho foi a elaboração de material didático para a capacitação dos cirurgiões-dentistas das equipes do Programa de Saúde da Família (PSF), em plano piloto na cidade de São Paulo. A ação se insere no Projeto de Telemática e Telemedicina da FM, em parceria com o Ministério da Saúde.

Além da disciplina de Material Didático, para ensino presencial e telepresencial, o Núcleo também ministra disciplinas de Teleodontologia para graduação e pós-graduação e as disciplinas de Metodologia do Ensino e Metodologia da Pesquisa para pós-graduação. O graduando tem a oportunidade de vivenciar atividades de estudo a distância e de aprender a emitir laudos de Segunda Opinião sobre diferentes aspectos clínicos de cada assunto, monitorados por pós-graduandos e docentes.

Os alunos curtem isso
Quem pensa que o Facebook só serve para postar fotos e vigiar a vida alheia está enganado. A disciplina de Metodologia da Pesquisa, ministrada pelo Núcleo de Teleodontologia a alunos da pós-graduação, faz uso dessa rede social – a mais utilizada no mundo. Uma semana, a aula é presencial; na seguinte, mediada pelo fórum do Facebook.

A professora Mary Caroline Skelton Macedo, conhecida por Maine, aponta a importância de incorporar essas ferramentas ao ambiente acadêmico, ressignificando a relação professor-aluno. Ela relata que alguns nem sequer tinham um perfil online, porém, apesar de certa resistência, entraram na nova mídia e têm apresentado um bom feedback. “Um professor veio falar comigo assustado porque, pouco tempo após ter criado seu perfil, já havia dezenas de pessoas querendo entrar em sua rede, inclusive seus alunos”, conta Maine. “Nós estamos indo buscar os nossos alunos. Eles usam tudo isso, para eles é muito fácil. É muito mais gostoso trabalhar no ambiente em que eles estão inseridos do que trabalhar apenas na sala de aula, apagando a luz e projetando slide”, diz ela.

Segundo a docente, os alunos da pós-graduação têm sido um bom marcador, pois têm aplicado as ferramentas aprendidas no Núcleo nos lugares em que dão aula, e têm recebido um ótimo retorno de seus alunos. Assim, muitas vezes os pós-graduandos pressionam seus professores a também fazer essas mudanças, estendendo o contato para além da sala de aula.

Maine e o colaborador Carlos Henrique Jacob ressaltam que os professores que têm se esforçado nesse sentido têm colhido frutos significativos com seus alunos, independentemente da idade. Um professor mais velho que decide entrar nesse ambiente virtual, seja respondendo dúvidas, mandando material extra durante a semana ou postando comentários, acaba tendo uma relação mais próxima com seus alunos do que um professor jovem que permanece distante.

O novo espaço
O novo Núcleo de Teleodontologia da FO contará com uma sala para defesa de tese com professor a distância. A professora Maine ressalta a importância desse recurso, principalmente no caso de o aluno completar seu ensino (aprendizado) em outro país. “Seria de muito bom tom que o professor que te recebeu lá pudesse participar da sua banca aqui. No entanto, é muito oneroso para a Escola trazer um professor de fora, pagar a viagem, hospedagem, alimentação, além de o professor ficar ausente de sua própria escola. A quantidade de alunos é grande, torna isso inviável”, diz Maine. “Porém, com uma sala apropriada, toda projetada para videoconferência, o professor pode participar a distância”, explica ela.

Haverá também uma sala de aula digital, na qual o aluno poderá trazer seu notebook, acessar a internet e trabalhar à vontade, bem como um Centro de Produção Digital, no qual os alunos poderão realizar trabalhos acadêmicos através de filmagem, edição de vídeo e áudio. “Será um espaço no qual você poderá produzir um material de qualidade, como filmagem e edição de um procedimento dentário odontológico, por exemplo”, diz Maine.

Uma nova forma de comunicar
A docente aponta que ainda existe muito preconceito com relação à educação realizada a distância e com a utilização das ferramentas digitais em ambiente acadêmico. Isso se dá, principalmente, pelo fato de as pessoas não enxergarem o recurso como uma forma complementar à educação presencial. A teleducação não visa substituir, porém complementar, ampliar e integrar. “O MEC está cada vez mais preocupado com a qualidade dos cursos ministrados a distância, tanto que, no ano passado, vários cursos foram fechados”, diz Maine. “É claro que nós nos preocupamos com a qualidade do ensino. São cursos que apresentam o selo da Universidade. Há uma série de critérios de qualidade a serem cumpridos para que se possa oferecer um curso sob esta modalidade”, atesta ela.

“A USP demorou muito a enxergar o ensino a distância com olhos de pesquisa. Na área da saúde, foi muito difícil inserir o ensino mediado por tecnologia”, aponta a docente. Porém, segundo ela, esse panorama está mudando. Os professores estão sendo capacitados em um curso especial de ensino a distância, para que entendam o que o recurso de fato significa. “Eles precisam enxergar que não é só gravar sua aula na sala de aula e jogar na rede. É uma nova mídia, que tem exigências próprias, então é preciso produzir material adequado para a comunicação naquele padrão novo.” A professora ressalta que, quando esse material é criado com qualidade, nasce uma nova forma de comunicação, diferente da presencial. “Não é mais ou menos importante, é diferente, e pode informar tanto quanto, ou, em alguns casos, até com mais profundidade, como têm revelado algumas pesquisas”, diz ela.

Maine reitera que os professores devem utilizar as plataformas digitais para fortalecer a relação com seus alunos e aprofundar o que é visto em sala de aula. “As ferramentas eletrônicas proporcionam um contato mais direto e continuado entre professor e aluno. Você vê seu professor uma vez por semana, ele lá na frente e você sentado, sendo que muitas vezes você não tem oportunidade de falar com ele”, diz ela. “Mas, se ele está na sua rede social, você fala com ele durante a semana, manda uma série de coisas, faz posts e comentários. Há muito mais troca de informações”, completa a docente.

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