São Paulo (AUN - USP) - “Em geral, é a aplicação de técnicas de computação e de estatística na área de biologia”, resume o professor Alan Mitchel Durham, apesar de ele mesmo admitir haver certas divergências entre pesquisadores quanto a definição do termo. “Essa aplicação é mais comum na área de biologia molecular, mas não é exclusiva a ela”, Durham completa. Docente do Instituto de Matemática e Estatística (IME), ele coordena o Programa de Pós-graduação em Bioinformática da USP, um dos únicos do Brasil a oferecer curso a nível de doutorado na área. O programa é resultado de uma parceria entre mais de sete unidades da Universidade, inclusive fora do campus da capital, buscando corresponder à ampla multidisciplinaridade característica desse campo.
De qualquer forma, é difícil falar de bioinformática sem falar de biologia molecular, que é o estudo das ligações entre as moléculas que compõem os seres vivos. Na prática, a bioinformática trabalha com o genoma. Pode atuar tanto no nível da proteína como analisando a própria sequência do código genético para descobrir, entre outras coisas, o que faz um gene funcionar ou não.
Em muitos casos, é necessário segmentar o material genético, dividi-lo em vários pedaços menores para serem analisados separadamente. Para categorizar esses pedaços e reordená-los entra o auxílio da computação. Segundo Alan, tratam-se de valores como 4 bilhões de combinações possíveis e seria impossível organizar isso sem a bioinformática.
Um dos desafios referentes ao código genético é identificar quais partes dele estão ativas, quais estão funcionando e em que momento. Para mostrar como funcionam os estudos nessa área, Alan utiliza a metáfora de nosso organismo como um jogo de futebol, porém, com milhares de jogadores sentados no banco de reserva. “Você pode tirar várias fotos do jogo ao longo do tempo a fim de perceber quais jogadores estão jogando e quais não”, continua Alan. “Cada jogador tem uma função no campo, mas pode haver jogadores que, dependendo da situação, jogam em posições diferentes”. A partir de análise das fotos obtidas desse jogo será possível identificar quais jogadores interagem com quais e quando. No caso da análise de informações genéticas, sendo cada jogador uma proteína, é necessária bastante estatística e bastante computação para descobrir como acontecem essas interações e quais as funções que cada proteína exerce.
Voltando à metáfora do jogo de futebol, muitas vezes o time adversário será um parasita que causa doenças ao homem ou a outro ser vivo, como plantas utilizadas para alimentação. Para anular seu time, neutralizá-lo, é necessário escolher o jogador certo, e isso demanda um conhecimento amplo de nossa equipe, ou, no caso, de nossas proteínas e de nosso código genético.