São Paulo (AUN - USP) - Doutorando em ciência da computação pelo Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME), Leandro Ferrari Thomaz é responsável pelo projeto “Um arcabouço para construção de sistemas multiagentes musicais”, que pretende dar as ferramentas necessárias para que músicos e artistas multimídias realizem com mais facilidade e liberdade seus trabalhos.
Um arcabouço é, em computação, algo pré-construído que facilita o desenvolvimento de certas aplicações. No caso, tratam-se de aplicações que envolvem um sistema multiagentes musicais. O arcabouço desenvolvido por Leandro contém os primeiros passos dessa tarefa para que quem qualquer um que pretenda desenvolver uma aplicação deste tipo não tenha que começar do zero. “Como a parte mais complicada de programação já foi feita, isso facilita a vida do artista, pois não exige que ele tenha um conhecimento tão avançado em computação”, Leandro explica. “Contém alguns problemas já resolvidos, como a maneira com que áudio vai ser transmitido ou como o computador conversará com o usuário”.
Esse sistema envolve agentes musicais, que não deixam de ser agentes computacionais. Agentes computacionais são fragmentos de software autônomos. “Uma analogia boa é o caso de um robô explorando Marte, que não precisa ser controlado. Ele age de maneira autônoma e recebe sensações do ambiente, percebendo o estado das coisas ao seu redor. Tem um raciocínio interno próprio e um objetivo específico, que é, por exemplo, andar por Marte procurando pedras”, explica Leandro.
No caso do projeto, multiagentes remete a vários agentes juntos interagindo. Esses são capazes de perceber um mundo e a partir dessas percepções decidir como agir nesse mundo. Porém, com um diferencial: por meio da música. “Em performances interativas isso é muito interessante”, continua Leandro. Em uma instalação é possível atribuir para cada agente um papel musical específico, como baterista, flautista ou pianista. Juntos, esses agentes irão interagir entre si e, por serem capazes de perceber o ambiente, podem interagir inclusive como artista se ele estiver tocando um instrumento. Esse ambiente, é válido ressaltar, pode ser exclusivamente digital, de duas ou três dimensões.
Um dos diferencias da pesquisa desenvolvida por Leandro é que ela oferece ao usuário a possibilidade de que esse ambiente reproduza com fidelidade a propagação das ondas sonoras como elas ocorrem no planeta Terra. “O usuário pode escolher outros tipos de propagação, mas esta já está lá pronta e desenvolvida para ele”.
Os agentes não são somente autônomos como também podem ter um ciclo de vida, ou seja, nascer, agir e, depois, morrer. Como os sons emitidos por um agente estão sempre em função dos sons que ele ouve, já que ele percebe o ambiente a sua volta, vários agentes juntos são capazes de compor sozinhos músicas inteiras durante o período em que viverem – esse aspecto em particular tem sido bastante explorado na arte contemporânea como uma própria reflexão do processo de criação musical.
Também utilizando esta tecnologia de multiagentes autônomos estão sendo desenvolvidas pesquisas que buscam entender o próprio surgimento da música e a razão pela qual, em determinadas culturas, prevaleceram certos aspectos musicais.
Paralelamente ao doutorado, Leandro cursa graduação em Música pela Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA). O arcabouço foi desenvolvido pelo pesquisador como software livre e está disponível gratuitamente no site http://www.eca.usp.br/mobile/portal/