São Paulo (AUN - USP) - Para Patrícia Izar, professora do Instituto de Psicologia da USP, a resposta é sim, porém um riso análogo ao nosso, ou seja, uma reação semelhante, mas que não apresenta origem comum. Patrícia faz parte de um grupo de pesquisadores que se dedicam a etologia, área da psicologia experimental que busca entender o comportamento animal – e, portanto, o comportamento humano – sob uma perspectiva evolutiva, como algo que tem componentes herdados e está sujeito à seleção natural. “Vamos buscar gradações, olhar para espécies próximas a nossa e procurar origens de determinada característica ou mesmo similaridades”, diz Patrícia.
Nesse campo, as expressões faciais são um tema de especial interesse. Segundo Patrícia, “as expressões são de fato um componente da própria emoção”. É possível, de alguma maneira, moldar isso frente a regras culturais. Em culturas orientais, principalmente a japonesa, há uma habilidade em mascarar a emoção que se está sentindo. “Há regras de não exibição, é feio, mas isso a custa de muita regulação”, ela descreve, acrescentando que, mesmo nesses casos, se a pessoa estiver sozinha ou achar que está sozinha, ela parará de se controlar e reagirá a certas situações fazendo cara de nojo, raiva, entre outras. De maneira geral, há uma concordância muito elevada, em um universal cultural, ao que essas expressões faciais significam. “Mesmo em sociedades coletoras e caçadoras, em que não há contato com a mídia, a concordância é de mais de 90%”. Também foram realizados estudos com crianças que nasceram sem visão, mostrando que elas reagiam à situações de felicidade com as expressões faciais esperadas, sem a necessidade de tê-las presenciado em um adulto.
Na observação de primatas, e principalmente dos grandes primatas, que se acredita serem os mais próximos da nossa espécie, busca-se principalmente identificar homologias, características que partilhem uma origem comum. Não é o caso do riso. Na nossa espécie, rir está associado a situações engraçadas, e os animais não são capazes de identificar esse tipo de contexto humorístico. Principalmente em primatas, uma expressão muito parecida com cara de riso humana é a cara de brincadeira. “Macacos brincam muito, principalmente aquilo que a gente chama de brincadeira turbulenta, que é brincar de brigar. Nesses casos, a cara deles é de risada, com a boca relaxada. No caso dos chimpanzés há até uma vocalização, um certo arfar, um tipo de respiração que lembra a nossa gargalhada”, conta Patrícia.
No caso de outras reações, embora hoje entendidas como análogas, há indícios que nos levam a crer que talvez tenham vindo de um ancestral comum. É o caso do sorriso, por exemplo. Muitas espécies de macacos têm uma expressão bastante similar ao sorriso humano, chamada dentes expostos silenciosamente, e que é na maioria das vezes sinal de subordinação. Ocorre quando, por exemplo, um macaco dominante se aproxima. Isso nutre a ideia de que o sorriso possa ter sua origem relacionada a essa questão de apaziguar, de facilitar a comunicação.
“Sempre que a gente fala que não há, na verdade quer dizer que não foi observado, porque às vezes ocorre e ninguém viu e estudou”, Patrícia faz questão de enfatizar, chamando atenção também para o fato de que, para identificação de certos aspectos do comportamento animal, são necessárias tecnologias que nem sempre estão disponíveis.
De qualquer forma, a questão das expressões faciais ainda tem muito a ser estudado. O primeiro a analisar essa questão sob um ponto de vista comparativo foi Charles Darwin, em seu livro A expressão das emoções no homem e nos animais, de 1872. “Foi a partir da expressão das emoções que ele começou a pensar que comportamento também poderia ser estudado por uma abordagem filogenética, de buscar padrões de evolução usando a comparação”. Depois disso, ornitólogos retomaram estudos do comportamento como algo evolutivo nas duas primeiras décadas do século 20 e só mais adiante pesquisas das expressões faciais humanas foram retomadas.