São Paulo (AUN - USP) - Dentro da área chamada de origami computacional, que estuda maneiras de resolver problemas complexos da geometria espacial, Deise Harumi Aoki desenvolveu seu trabalho de formatura para obtenção do grau de bacharel em ciência da computação pelo Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME). Resultados de pesquisas nesse campo são aplicáveis em diversas áreas, desde a engenharia robótica até a bioinformática, para ajudar, por exemplo, a entender como as proteínas se dobram.
O trabalho, realizado em colaboração com o aluno Rafael Antonio Cosentino e orientado pelo professor José Coelho de Pina Júnior, consiste no estudo e implementação de algoritmos para resolver o clássico desafio de dobrar e cortar.
Um algoritmo não é necessariamente um programa de computador, mas sim uma espécie de receita que contém as coordenadas e os comandos para realização de determinada tarefa. No caso, a tarefa será descobrir qual a série de dobraduras permite que um polígono qualquer desenhado em uma folha de papel seja destacado dela com apenas um corte reto de tesoura. “Este problema sempre tem solução, mesmo que o polígono possua ‘buracos’”, informa Rafael.
A questão de ‘dobrar e cortar’ é mais complexa do que parece e constitui uma das áreas de maior interesse da prática do origami, embora alguns tradicionalistas considerem que, nesta arte, não deve ser permitido qualquer tipo de corte ou o uso de instrumentos como a tesoura.
A arte do origami, união dos termos japoneses oru (dobrar) e kami (papel), tornou-se emblemática da cultura e da tradição do Japão. Contudo, ao contrário do que muitos pensam, a prática de dobrar papel não teve origem nesse país, mas foi trazida por monges budistas chineses. Há relatos de que o povo chinês já utilizava a dobradura há dois mil anos, desde a época em que o próprio papel foi inventado, porém foi no Japão que a técnica ganhou complexidade.
Para solucionar o problema, Deise valeu-se da implementação de um algoritmo sugerido pelo matemático Marshall Bern, importante pesquisador da área de geometria computacional. O algoritmo utiliza técnicas de empacotamento de discos e diagrama de Voronoi para obter as coordenadas exatas das dobraduras de modo que o único corte de tesoura não mutile o polígono que se deseja obter.
“O meu desafio inicial foi achar uma iniciação científica que realmente me interessasse”, conta Deise a respeito do desenvolvimento do trabalho. Ela conta que uma das principais dificuldades foi administrar o tempo, já que tinha muitos livros para ler sobre origami e passava horas dobrando os modelos dos próprios livros tentando entender melhor a técnica. Ainda assim, Deise gostaria de ter tido mais tempo disponível para poder se aprofundar nos estudos da arte do origami.