ISSN 2359-5191

22/10/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 19 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Observatório no Chile recebe primeiro astrônomo residente brasileiro

São Paulo (AUN - USP) - O Brasil terá no começo de 2004 seu primeiro astrônomo residente no telescópio Soar (sigla para SOuthern Astrophysical Research) no Chile. É o pós-doutorando do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) Eduardo Cypriano, que atualmente estuda lentes gravitacionais em aglomerados de galáxias.

Para entender melhor como se dá esse efeito, imagine o espaço como um lençol esticado. Ele se curva para baixo ao se colocar, por exemplo, uma laranja - assim é uma simples representação de como o espaço seria se tivesse duas dimensões. Agora, entendendo a laranja como uma massa no espaço, verifica-se que esta curva o espaço. Daí decorre uma das conseqüências mais belas da Teoria da Relatividade Geral de Einstein, as imagens de lentes gravitacionais em aglomerados de galáxias (regiões do universo mais densas, com muitas galáxias juntas).

Já que o espaço-tempo é curvo ao redor de uma concentração de massa muito grande, como os aglomerados de galáxias estudados por Cypriano, a luz segue caminhos diferentes daqueles que estamos acostumados (em linha reta) – ela faz curvas por causa da atração gravitacional (Figura 1). Por causa desse efeito, a luz de objetos que estão atrás de estrelas massivas, aglomerados de galáxias (Figura 2), buracos negros (concentrações de massa) sofre uma curvatura (deflexão). ”A luz, como um outro corpo qualquer, também sofre a ação da gravidade”, explica Cypriano.

“Num aglomerado de galáxias, a fração da massa que emite luz (estrelas e gás) é menos de 1/10 da massa total. O restante é conhecido como matéria escura, cuja natureza ainda não é bem conhecida.” Assim, podem ser usadas essas técnicas de distorção de lentes gravitacionais para medir não só a quantidade, como também a distribuição da matéria escura. Quanto maior a concentração de massa (do aglomerado), mais forte será a lente. “O meu interesse é estudar a matéria escura, 90% da matéria do universo”, explica.

Em sua pesquisa de doutorado, Cypriano utilizou dois telescópios de 8m. Um deles foi o VLT (Very Large Telescope), que fica no Chile. Foi usado o “modo de observação em fila”, o pesquisador não precisou viajar até o país, ele diz as coordenadas a serem observadas, os filtros que quer utilizar e as condições de atmosfera. O outro telescópio utilizado desta mesma maneira foi o Gemini do norte, no Havaí.

Cypriano também falou sobre seu futuro trabalho como astrônomo quando for para o Chile em janeiro de 2004. “A minha função como astrônomo residente será de desenvolver e manter o telescópio e seus instrumentos, dar apoio aos astrônomos brasileiros que forem se utilizar do Soar e continuar e desenvolvimento das minhas linhas de pesquisa, incluindo lentes gravitacionais.”

O telescópio Soar, localizado nos Andes chilenos, no Cerro Pachon, tem espelho principal (ou primário) de 4m de diâmetro. O Brasil tem 30% do tempo de observação nele. Os telescópios Gemini, por exemplo, tem espelho bem maior (8m), mas proporciona aos brasileiros apenas 2,5% do tempo. O Soar será o mais importante instrumento para pesquisa em astronomia observacional para o país.

Veja aqui as figuras ilustrativas.

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