ISSN 2359-5191

22/10/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 19 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Física
Pesquisa quer mapear a radiação na cidade de São Paulo

São Paulo (AUN - USP) - Uma pesquisa do Instituto de Física da USP pretende fazer um mapeamento isótopo radônio-222) nos domicílios da cidade de São Paulo. O estudo, conduzido pelo físico Almy Rodrigues da Silva, ainda está em andamento, e os resultados preliminares só devem sair no final deste ano.

O gás se origina do Rádio, um elemento químico que está presente naturalmente no solo. O Rádio sofre um processo de decaimento, no qual perde partículas do seu núcleo e transforma-se em outro elemento. No caso o Radônio, que é radioativo, ou seja, emite algum tipo de radiação. E além dele, os “filhos” do Radônio, elementos metálicos originados do seu decaimento e também radioativos. O problema é que os materiais de construção usados nas obras provêem, em boa parte, do mesmo solo em que se encontra o Rádio, e com isso leva-se o Radônio e seus filhos para dentro dos domicílios.

O Radônio é normalmente um problema em países com climas mais frios, pois o estado gasoso no qual ele se encontra na natureza faz com que ele se espalhe e se acumule em regiões com pouca circulação de ar. Como nos países mais frios os ambientes são mantidos mais fechados, a possibilidade de que o gás atinja concentrações de risco é maior. No Brasil, que possui um clima tropical e as casas costumam ser mais ventiladas, o gás radioativo teoricamente tenderia a uma maior dispersão. O fato é que ainda não existem estatísticas suficientes para inferir se o caso chega ou não a ser um problema de saúde pública. Outros lugares, como cavernas ou minas, são locais onde a concentração do Radônio tende a ser grande. A exposição a doses elevadas desta radiação aumenta consideravelmente as chances do desenvolvimento de alguns tipos de câncer, principalmente nos pulmões.

Quando uma partícula de radiação alfa (o tipo de radiação do Radônio) atinge uma célula, existem basicamente três coisas que podem acontecer: a célula morrer, sobreviver como se nada tivesse acontecido ou ter o seu material genético danificado, mas sobreviver. A primeira hipótese pode produzir danos imediatos, e alguns tipos de radiação chegam até a causar queimaduras na pele. A segunda alternativa praticamente não produz efeitos danosos, porém, a última delas é capaz de originar tumores cancerosos anos após a exposição.

Não há, também, estatísticas no Brasil a respeito do câncer provocado pela radiação ambiental, como a do Radônio e filhos. Os pesquisadores ressaltam que seria muito difícil obter estes números, que além de serem relativamente pequenos sofrem com a interferência dos muitos outros agentes que influem na incidência do câncer, como o tabaco ou alguns produtos químicos. Existem até correntes de pesquisadores que acreditam em efeitos benéficos da radiação, segundo Silva. Mas apenas com estudos e pesquisas neste campo, como o por ele conduzido, é que será possível definir com maior certeza o mal e o bem que a radiação pode trazer para nós.

Um caráter social
Um aspecto inesperado deste estudo foi também um dois mais recompensadores para Silva: o fato de metade da amostragem dos domicílios ter sido escolhida aleatoriamente obrigou os pesquisadores a fazerem incursões em pontos distantes da capital, e nem sempre muito amistosos. No entanto, a possibilidade de prestar esclarecimentos e ensinar pessoas que nunca tiveram acesso a este tipo de informação fez com que o trabalho ganhasse um caráter social, ainda que localizado. “Pensei até em escrever um artigo sobre esta experiência”, confessa Silva.

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