São Paulo (AUN - USP) - O acompanhamento terapêutico (AT) foi o assunto abordado na abertura da Semana de Psicologia 2011, evento organizado por alunos do Instituto de Psicologia (IP) da USP. O AT é a inserção de um terapeuta diretamente no cotidiano do paciente, acompanhando-o em suas atividades diárias. “O AT é recomendado em todos os casos em que se avalia que a intervenção no dia-a-dia de uma pessoa possa beneficiá-la”, afirma Kléber Duarte Barretto, que ministrou a palestra no último dia 22 no Auditório Carolina M. Bori. Graduado pelo IP e mestre e doutor em psicologia clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Barretto é atualmente pesquisador e supervisor na área pela Universidade Paulista (Unip).
No caso de pacientes com condições mais graves, como na psicose, no autismo ou em deficiências importantes, os benefícios dessa prática terapêutica são amplamente reconhecidos, mas Barretto defende que o AT pode trazer vantagens para o tratamento de qualquer paciente. “Muitas vezes uma criança precisa de ajuda terapêutica e o ideal não seria ir para um espaço de consultório, mas que essa intervenção se desse na casa dela, na escola, no dia-a-dia”, opina. Além de ser um recurso em expansão na área da psicologia, ele é cada vez mais utilizado em situações como na inclusão na educação, em casos de detentos em liberdade assistida e na reabilitação de pacientes que sofreram algum acidente ou passaram por alguma cirurgia importante.
Essa prática não é baseada em um único pressuposto teórico dentro da psicologia: ela pode ser usada por várias abordagens. Cada teoria parte de concepções de homem distintas, mas todas podem usar essa forma de lidar com o paciente dentro de sua prática. “O AT não surgiu com uma teoria. Ele surgiu de uma necessidade da vida, de uma situação da qual os recursos utilizados não davam conta, e então apareceu essa necessidade de estar mais próximo do dia-a-dia [do paciente]”, comenta o psicólogo. O AT emergiu no final da década de 1960 como alternativa aos modelos de psicologia clínica até então vigentes, que se restringiam a atuações em consultórios e instituições.
Não há um período de intervenção fixo. Em certos casos, o paciente pode necessitar desse tipo de acompanhamento durante a vida toda, mas muitas pessoas já se beneficiam desse contato após um curto período. “Uma das vantagens é poder intervir nesse contexto cotidiano, poder intervir na hora em uma coisa que a pessoa não fala [no consultório], não percebe que seria uma coisa importante de ser dita”, relata Barretto. Outra vantagem apontada por ele é a relação construída entre acompanhante e acompanhado, que frequentemente é, por si só, terapêutica.
O palestrante citou exemplos clínicos para ilustrar aos alunos seu trabalho e defendeu a importância do preparo profissional dos psicólogos para lidarem com a demanda de pacientes por esse tipo de intervenção, ainda insuficientemente divulgada no Brasil. “Essa prática está se difundindo cada vez mais em certos centros urbanos, mas ela é mais conhecida em determinadas áreas, como nos campos da saúde e a da psiquiatria. Saiu em 2008 um edital do Ministério da Saúde que contemplava o financiamento de vários projetos de AT e existem muitas dissertações e teses sobre o assunto no Brasil, mas tem gente que ainda nunca ouviu falar”, comenta.