São Paulo (AUN - USP) - A grade do curso de veterinária da FMVZ-USP permanece praticamente inalterada há mais de dez anos. O professor e coordenador do curso, Rodrigo Martins Soares, vê de perto e com bons olhos a mudança na grade, voltada a não mais “sufocar o aluno”, que segundo ele tem pouco tempo para projetos de iniciação científica e de estudo pessoal. O curso atual dura cinco anos em período integral (matutino e vespertino), sendo a quarta-feira o único dia sem aulas, a partir do segundo ano.
A reformulação se baseia em dois pontos principais: a primeira é a redução da carga horária de matérias obrigatórias. A intenção é que passe das atuais 5.010 horas (sendo 480 de estágio obrigatório no último semestre) para 4.530 horas – redução de aproximadamente 20% do curso -, e o restante complementado em outras unidades, como Instituto de Biologia (IB) ou Faculdade de Medicina (FM), por exemplo. O outro foco é diminuir o chamado “sombreamento” nas matérias, disciplinas que acabam repetindo temas e conceitos anteriormente vistos.
O principal objetivo é que o estudante saia da Faculdade com um mais conhecimento na especialidade que pretende seguir através da seleção de matérias que ele fizer. Outro lado positivo da reestruturação é a maior disponibilidade do aluno para iniciações científicas. Segundo Soares, o aluno da veterinária não tem tempo para fazer um bom projeto, pois ele só tem “janela” nas quartas-feiras, prejudicando a orientação para pesquisa. “Nossos alunos são realmente muito bons, mas pela falta de tempo, acaba que nossos projetos de iniciação são feitos por estudantes de outra unidade”. Com o enxugamento da grade é possível que o aluno da veterinária seja mais valorizado no quesito acadêmico.
O processo
Desde 2007, a possibilidade de reestruturação é cogitada dentro da FMVZ, mas foi neste ano que o Conselho de Graduação abraçou a discussão. Apesar de a idéia ter partido dos docentes, a sensação é de total apoio do corpo discente. Nas três reuniões feitas para discutir a nova grade, houve considerável presença dos alunos que discutiram e opinaram em diversos temas.
Uma grande dificuldade encontrada, além de toda a responsabilidade que envolve a formação dos futuros médicos, é com relação à relutância de alguns docentes em alterar aspectos de sua disciplina, como suprimir temas abordados em outras matérias – o sombreamento –, a diminuição da carga horária e até a transferência da obrigatoriedade para a optativa. Isso pode, de alguma forma, afetar o prestígio do docente com a unidade e colegas, mas principalmente com seu status frente a Reitoria.
Deve-se ressaltar que a não haverá imposições da faculdade e que toda e qualquer mudança será baseado no diálogo entre os professores e conselho, sem intervenções agressivas dentro do cronograma de aula. Há de se considerar também, que para muitos alunos, uma optativa com vagas concorridas torna-se mais importante e com maior status que uma matéria obrigatória.
A expectativa de Soares é que a grade obrigatória seja fechada ainda em outubro e as optativas em dezembro, com a devida adequação dos horários mais favoráveis aos alunos. A totalidade do novo curso deve estar finalizada no segundo semestre de 2012 e pronta para ser apresentada à Congregação, a fim de alcançar as turmas ingressantes em 2014.
A reestruturação curricular, segundo Soares, deve repercutir em outras faculdades da área e estimular outras mudanças. Assim como a UFMG, que também reformula sua grande, a USP é referencia nacional e internacional em veterinária, afirma o professor.