ISSN 2359-5191

30/08/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 78 - Sociedade - Cinusp Paulo Emílio
Documentário emociona público universitário

São Paulo (AUN - USP) - As melhores pessoas para contar uma história, muitas vezes, são aquelas que participaram dela intensamente. Essa é a proposta de “Diário de uma Busca”, documentário dramático que foi exibido na última quinta-feira, dia 18, no Cinusp Paulo Emílio, seguido de debate com a diretora Flávia Castro.

A frequência do cinema gratuito da USP, localizado na Colméia, dentro da universidade, é em sua maioria de cinéfilos e universitários com boa base cinematográfica. Ainda assim, após a sessão, muitos espectadores se emocionaram, alguns inlcusive choraram, ao mencionar para a diretora a sensibilidade da montagem e realização da obra.

O filme, primeiro de Flávia como diretora, conta a história real de Celso Afonso Gay de Castro, seu pai e militante de esquerda que viveu uma vida agitada, apaixonada e de fugas. Sua morte, em 1984 com apenas 39 anos, ocorreu em circunstâncias misteriosas, e foi por isso muito noticiada na época.

Seu diferencial é justamente a visão familiar, apresentada pela forma como a vida do protagonista é mostrada em suas sutilezas, além do relacionamento e do tratamento sincero entre os personagens do filme por serem, eles mesmos, os realizadores da montagem. Todos os elementos do filme, vencedor dos prêmios no Festival do Rio 2010, Biarritz 2010 e Festival de Punta Del Este, desde a fotografia à trilha sonora, remetem ao passado de forma sincera, o que tocou os espectadores.

Flávia Castro contou sobre as mudanças que ocorreram desde a concepção da ideia inicial, onde existia certa intenção de investigar e passar a limpo a morte do protagonista, até a finalização do filme: “eu tinha um roteiro escrito, mas quando fui montar, estava tão fascinada com os depoimentos que queria mostrar tudo”, disse, “apesar disso, é incrível como no final ficou parecido com o original, com o início mesmo”. Relatou também algumas entrevistas e conversas com militantes, além de sua relação com o irmão, que não tem a mesma visão dos fatos que ela, mas ainda assim ajudou muito na produção da obra e se expõe muito no filme.

Outra questão que permitiu esse grande envolvimento foi a presença de militantes na platéia. Houve identificação de alguns participantes, que sugeriram uma maior divulgação do filme em sindicatos e grupos de esquerda para a disseminação desse mesmo sentimento entre ativistas políticos de outros lugares pelo Brasil.

Sobre a militância em sua própria vida, Flávia deixa claro que não se interessa tanto como seus pais pelo assunto, mas reconhece a importância de suas filmagens para o estudo e registro histórico de um período de lutas, e compreende o interesse nessas exibições por parte de grupos da esquerda. “Tenho muito respeito e admiração por essa geração que abraçava de tal forma um projeto político, apesar de não ter isso dentro de mim”, comenta, “para mim, o filme está falando de uma derrota muito grande, não só de política”. Ela fala que já houve inclusive exibições do filme em sindicatos, em parceria com a Brazucah Produções, as quais geraram debates e conversas a respeito da atuação política de sua família. O filme entra em cartaz nos cinemas convencionais do Brasil no dia 26 de agosto, sexta-feira.

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