São Paulo (AUN - USP) - Pesquisa na área da matemática pretende delinear o que é absolutamente necessário para que se atinja o nível de cooperação observado nos seres humanos. Ao partir de uma das definições de altruísmo – que remete a um comportamento benéfico para os outros, mas que prejudica à própria pessoa –, categorizam-se os mecanismos de punição como sendo altruísticos e procura-se atribuir uma explicação genética para os comportamentos punitivos, portanto, altruísticos, que acabam por aumentar a colaboração humana, como comprovam muitos estudos.
A pesquisa está sendo desenvolvida pelos professores do Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME) Renato Vicente e Roberto Schonmann, juntamente com o professor do Instituto de Física (IF) Nestor Caticha. Um dos pontos de partida para o trabalho são os inúmeros estudos feitos sobre a dopamina, neurotransmissor que, entre outras funções, é responsável pela sensação de recompensa no ser humano. Indivíduos que têm determinada variante dos receptores de dopamina tendem a serem mais sensíveis aos mecanismos recompensatórios e, desta forma, também punitivos, pois a área do cérebro que ativa recompensa e punição é a mesma.
Para entender melhor, basta pensar na guerra entre duas tribos, por exemplo. Se todos os indivíduos de um grupo colaboram, as chances de vencer são maiores e mais vantagens terá a tribo. Porém, ir à guerra é uma enorme ameaça aos princípios evolutivos de preservação, pois há uma grande possibilidade de morrer e, assim, não deixar herdeiros. Neste raciocínio, o custo individual deve ser muito menor do que a sensação de recompensa pela vitória, do que os ganhos da coletividade. Caso contrário, os integrantes da tribo fugirão à guerra.
Para evitar a fuga e forçar a colaboração deve-se aplicar a punição. Porém, esta também implica riscos a quem a incute, ou seja, faz-se um benefício para o grupo, mas não se adquire vantagens com isso. É um paradoxo que a pesquisa pontua. O que exatamente resolve a questão pode ser a variante mutagênica de um gene, que implica predisposição para punir e valorizar recompensas. São os chamados genes sociais.
Algumas evidências já existem: homens punem mais do que mulheres. Mas o universo de estudo é amplo: “O ser humano não coopera só com parentes próximos, apesar de o grau de colaboração nesses casos ser ainda maior. Mas ajudamos a todos indistintamente, é biológico isto”, afirma o professor Renato, acrescentando: “Muitos pensam que os animais também agem assim, mas isso é inerente à espécie humana. Se um animal cuida de outro é porque o confundiu com seu filhote”.
Na pesquisa, a matemática simplifica o objeto de estudo – que conta com conceitos das áreas de antropologia e biologia – para que se possa definir quais condições influem em mudanças comportamentais e quais não. A defesa aqui é de que tudo é genético e cultural ao mesmo tempo, como ratifica o professor Renato Vicente em sua palestra.