São Paulo (AUN - USP) - O mês de setembro começou no Instituto de Psicologia (IP) da USP com um evento que trouxe à tona um assunto pouco divulgado: a psicologia anomalística – que estuda experiências e crenças relacionadas a fenômenos paranormais. O X Seminário Inter Psi, sigla do Laboratório de Psicologia Anomalística e Processos Psicossociais, contou com a presença de dois pesquisadores brasileiros, Wellington Zangari e Fátima Regina Machado, e dois estrangeiros, os norte-americanos Carlos Alvarado e Nancy Zingrone. As palestras foram ministradas no Auditório Carolina M. Bori na última quinta-feira, dia 1º de setembro, e apresentaram para o público, que era constituído por alunos e professores do IP, o contexto de atuação dessa área da psicologia.
Os professores convidados explicaram qual é o objeto de estudo da psicologia anomalística e fizeram comentários sobre diferentes trabalhos de pesquisadores da área ao redor do mundo. Os pesquisadores estrangeiros, vinculados à Universidade de Atlanta, vieram à convite do Inter Psi, cujos membros têm contato com psicólogos da área de diversas partes do mundo. O laboratório pretende abrir uma disciplina optativa livre no IP no ano de 2012, com o objetivo de divulgar a psicologia anomalística para a graduação.
Wellington Zangari, um dos palestrantes e coordenador do laboratório, comenta: “O laboratório está aberto para pesquisas na área de psicologia anomalística, ou seja, o estudo de certas crenças e experiências relacionadas, por exemplo, a fenômenos paranormais, que seriam aqueles considerados fora da compreensão da psicologia nesse momento”.
O professor é orientador de nove alunos, tanto de iniciação científica quanto de pós-graduação. As pesquisas que orienta abrangem diversos temas dentro daquilo que se considera “fenômeno anômalo”, como a mediunidade. “Estudamos como pessoas que se consideram médiuns constituem sua própria identidade como médiuns, como a mediunidade influencia na constituição dessa identidade e como ela é vivida pelo grupo no qual essa pessoa está inserida”, afirma Zangari. Os sujeitos da pesquisa são contatados por meio de pessoas que o laboratório conhece dentro de certos ambientes, principalmente os religiosos. Elas são entrevistadas, passam por uma avaliação psicológica e, a partir dos dados coletados, realiza-se a pesquisa.
Ao partir de abordagens teóricas da psicologia social, o Inter Psi acolhe diversos métodos de pesquisa, desde fenomenológicos (que avaliam o sentido que essas experiências têm para o indivíduo) até ontológicos (que procuram determinar qual seria a natureza ou a explicação para a existência desses fenômenos). Sobre os objetivos do laboratório, Zangari explica: “O primeiro objetivo [do laboratório] é descrever as experiências que são narradas. Há diversas experiências que são relatadas em muitas épocas da história que não são catalogadas ou não são investigadas por psicólogos, que são praticamente abandonadas para sua prática em ambientes religiosos. O segundo objetivo é verificar quais as variáveis psicológicas que influenciam a emergência de experiências desse tipo”. As pesquisas do laboratório têm por finalidade, em linhas gerais, estabelecer qual é o significado de experiências anômalas para as pessoas que as vivenciam, já que a psicologia deve estudar todos os fenômenos presentes na vida dos indivíduos e, portanto, não pode deixar de estudar aqueles para os quais a ciência ainda não tem explicação.