ISSN 2359-5191

14/09/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 83 - Meio Ambiente - Instituto de Física
Coodernador do Cnen faz palestra para “desmistificar” a energia nuclear

São Paulo (AUN - USP) - A grande dependência de usinas hidrelétricas para a geração de energia no Brasil é motivo de preocupações para especialistas. A produção proveniente desse tipo de usina é muito instável e dependente de fatores naturais. Em palestra no Instituto de Física (IF) da USP, Francisco Rondinelli Junior, coordenador geral de planejamento e avaliação da Comissão nacional de energia nuclear (Cnen) defendeu o uso da energia nuclear para complementação da matriz energética do país, minimizando seus aspectos negativos. Para ele, o grande receio existente em relação a essa matriz energética é alimentado por diversos mitos – muitos deles veiculados por ação da imprensa.

De acordo com dados apresentados pelo pesquisador, a representatividade da energia nuclear na matriz energética brasileira ainda não passa de 2,4%, enquanto no contexto mundial esse valor é de 15%. Paralelamente, 83,9% da energia produzida no Brasil provém de usinas hidrelétricas. “O ideal seria diminuir essa quantia a no máximo 70%, porque não dá pra controlar a natureza”, defende ele.

Rondinelli ainda aponta a instalação de usinas a fio d’água como agravante do problema. Tais usinas se diferem das hidrelétricas comuns por aproveitarem a vazão do rio, sem necessidade de quedas d’água e são defendidas por ambientalistas, uma vez que não necessitam de grandes áreas alagadas. No entanto elas operam sem reservatórios, ou com um muito reduzido, o que pode gerar problemas de abastecimento energético a longo prazo. “Apesar de nossa potência hidráulica estar aumentando, a capacidade de armazenamento dessa energia não está acompanhando o crescimento”, alerta.

A situação de Fukushima
Além de Angra 3, que já está sendo construída, existem projetos de instalação de mais quatro usinas nucleares no Brasil. Atualmente, 44 reatores nucleares estão sendo construídos no mundo. “E nenhuma das obras foi interrompida após o acidente de Fukushima”, ressalta Rondinelli. Na visão do pesquisador, um dos empecilhos à expansão do uso de energia nuclear são os diversos mitos que a circulam, em especial no que se refere à periculosidade. A fim de esclarecer o assunto, Rondinelli debruçou-se sobre o exemplo japonês.

“Em primeiro lugar, o que aconteceu em Fukushima não foi um acidente nuclear, mas um desastre natural”, afirma o pesquisador, categórico. Apesar de toda a preparação existente no país para situações de emergência, o terremoto que atingiu o Japão no dia 11 de março desse ano teve uma intensidade acima do normal (8,9 pontos na escala Richter). “Em termos de instalação industrial, apenas as usinas nucleares continuaram funcionando”, descreve Rondinelli. O pesquisador explica que diante dos tremores as usinas entraram e estado de alerta e os reatores começaram a ser resfriados. Entretanto, a proteção projetada para resistir a um maremoto de até cinco metros de altura, aproximadamente, não pôde conter o tsunami de 14 metros que atingiu a usina cerca de quinze minutos depois. Com isso o sistema de resfriamento foi comprometido e acabou resultando na liberação do gás de resfriamento do reator, que continha material radioativo, para o meio ambiente.

Apesar disso, Rondinelli considera absurdas comparações entre Fukushima e Chernobyl, pois no caso da Ucrânia houve explosão do reator central, cujo núcleo a grafite era mais perigoso que o de Fukushima, a água. Além disso, diferentemente do Japão, em Chernobyl não foram tomadas medidas de proteção, como a imediata retirada da população a um determinado raio da usina. “Não foi detectada em Fukushima nenhuma fatalidade decorrente da radiação e, nos termos do que se mediu até hoje, nenhuma lesão detectável”, reforça.

Mais mitos
Para o pesquisador, os danos à saúde provocados pelas demais fontes energéticas é superior ao da energia nuclear, mas não provoca o mesmo alarde por não ser divulgado com a ênfase devida. “Segundo a Agência Americana de Saúde, 20 mil pessoas por ano morrem nos Estados Unidos em decorrência de problemas respiratórios provocados pelo arsênico liberado nas usinas a carvão. Na China, são 300 mil pessoas”, conta Rondinelli. O carvão é até hoje a principal matriz energética mundial, com 40% de toda a energia produzida.

Outro “mito” que o pesquisador fez questão de esclarecer refere-se ao fato da energia nuclear ser considerada cara. “Esse tipo de energia é cara para começar, mas o custo de operação é baixo. Por isso existe um interesse muito grande da iniciativa privada em usinas nucleares”. Além disso, a energia nuclear é uma das que menos emite gases estufa. “Ela pode não ser renovável, mas é limpa”, explica Rondinelli. “E mesmo não-renovável, estima-se que as reservas de combustível para energia nuclear existentes no ano 2000 serão suficientes para 90 anos de abastecimento – que nós provavelmente nem vamos precisar, pois uma nova matriz energética será criada até lá”.

Quanto à preocupação sobre os rejeitos provenientes dos reatores, a resposta do pesquisador dispensa explicações: “O espaço necessário para armazenar os rejeitos de baixa e média atividade de todas as usinas nucleares existentes em containers empilhados um sobre o outro [sem exceder a altura de dois containers] corresponde ao tamanho de um campo de futebol”.

Rondinelli ainda critica o papel da mídia na criação dos diversos mitos sobre a energia nuclear, bem como a cobertura realizada durante o acidente de Fukushima. “Tanto a mídia brasileira quanto a internacional tiveram comportamento deplorável. Mostravam uma área destruída pelo terremoto dizendo que era causada pelo ‘acidente nuclear’”, desaprova o pesquisador. “A gente só consegue veicular matérias [sobre energia nuclear] quando acontece algo catastrófico”.

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