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15/09/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 84 - Sociedade - Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Especialistas questionam Copa e Olimpíadas no Brasil

São Paulo (AUN - USP) - Com a conquista do direito de sediar a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016, o Brasil receberá, em um intervalo de apenas dois anos, os maiores eventos esportivos do mundo. Assim, o país se comprometeu a encarar uma série de desafios para oferecer uma infraestrutura da magnitude que essas disputas exigem. E a pouco menos de três anos para o pontapé inicial desse período em que as atenções estarão voltadas para o Brasil, o que se vê são muitos atrasos de cronograma e disputas políticas, gerando certa incerteza sobre as condições que o país terá para honrar os compromissos assumidos.

Cientes das dificuldades que o Brasil tem tido para encaminhar vários dos projetos de obras para a Copa e para as Olímpiadas, além do esforço político, econômico e social que a realização desses eventos inevitavelmente exige, alunos do Diretório Central dos Estudantes da USP promoveram como parte da I Semana de Artes, Ciências e Humanidades, no último dia 24, “Copa do Mundo e Olímpiadas: o que está em jogo?”, palestra que contou com a participação de profissionais vinculados aos esportes, como o urbanista Carlos Vainer e o jornalista esportivo Juca Kfouri, e atraiu dezenas de convidados para o Auditório Azul da EACH.

Carlos Vainer, urbanista renomado e professor da UFRJ, é membro do Comitê Social da Copa do Mundo de 2014, um espaço aberto, democrático e apartidário, que tem a participação de movimentos e organizações populares, e busca debater os projetos que serão executados para a realização da Copa. Segundo Vainer, é fundamental, nos próximos anos, estimular a participação popular através de instrumentos de controle social e pautar debates que tenham foco no papel do poder público em relação à preservação dos direitos humanos. Assim, será possível dar atenção especial aos possíveis impactos negativos decorrentes das ações da Copa: exploração sexual no turismo, exposição infantil a situações de violência, faxina étnica, higienização social, tráfico de pessoas, dívida pública, entre outros. “A realização de uma Copa do Mundo ou de uma Olímpiadas implica uma série de desafios que não podem ser perdidos de vista. Os benefícios existem, mas já serão bastante propalados. É para os problemas que temos que ficar atentos”, salientou Vainer.

Para Kfouri, a conquista do Brasil de sediar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos está diretamente ligada à atuação individual de três importantes nomes da política nacional: o ex-presidente Lula, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, e o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman. “Tanto o Ricardo Teixeira quanto o Nuzman passaram os últimos anos preocupados apenas em se beneficiarem, até economicamente, e bajularem a Fifa e o Comitê Olímpico Internacional. A realização da Copa e das Olímpiadas no Brasil é fruto basicamente disso, somado ao enorme apelo popular do presidente Lula, que ofuscou até o Obama na cerimônia de escolha da sede dos Jogos Olímpicos. Todo mundo sabe, em sã consciência, que o Brasil não tem a menor condição técnica de sediar eventos desse porte”, explica Juca. O principal problema, segundo ele, é que quem vai pagar a conta disso tudo não é nenhum dos três, mas o povo brasileiro.

Reinaldo Pacheco, sociólogo e professor do curso de Lazer e Turismo da EACH, também participou da discussão e questionou os altos investimentos públicos que estão sendo feitos para a realização de eventos que duram menos de um mês. Segundo ele, apenas para a reforma do Maracanã, palco da final de 2014, o governo do Rio de Janeiro vai investir R$ 960 milhões, quase três vezes mais do total investido em políticas esportivas em todo o ano de 2010. Mateus Novaes, presidente da Associação Nacional dos Torcedores, também questionou os altos investimentos feitos pelos governos municipais, estaduais e federal para a realização dos dois eventos. Para ele, com tanto dinheiro gasto, vai ser impossível garantir ingressos que tenham preços acessíveis ao principal perfil dos torcedores brasileiros: “O povo vai pagar, mas não vai poder entrar na festa”. Mateus também criticou a falta de transparência em todos os encaminhamentos de projetos que foram feitos até agora e a ausência de ex-atletas nos comitês organizadores tanto da Copa do Mundo quanto dos Jogos Olímpicos.

Em 2007, a cidade do Rio de Janeiro foi sede dos XV Jogos Pan-Americanos. O Comitê Organizador do Pan, composto por muitos dos responsáveis pela organização dos Jogos Olímpicos de 2014, previu que os gastos públicos chegariam a até R$ 180 milhões. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), ao final do Pan, esse número chegou a R$ 1,8 bilhões, dez vezes o valor previsto. Os benefícios para o Rio de Janeiro foram ínfimos, e muitas das praças esportivas sequer serão aproveitadas nas Olímpiadas. Segundo os palestrantes da EACH, será preciso muita participação popular e uma mudança imediata de rumo por parte das autoridades para que os erros não se repitam na organização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos.

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