São Paulo (AUN - USP) - Ao morder um bombom, você percebe que algo de errado aconteceu com seu dente. Será que o doce tem culpa? Um profissional da área de Odontologia Forense poderá te dar a resposta para isso. A demanda por pareceres técnicos em processos judiciais envolvendo empresas de alimentos cresceu tanto que o Laboratório de Antropologia e Odontologia Forense da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FO/USP), o OFlab, começou a oferecer serviços na área de microscopia alimentar à comunidade.
A partir da reprodução do caso em laboratório, com testes de resistência dos materiais, é possível simular com gráficos qual a força necessária para causar a quebra do dente e, com isso, emitir laudos sobre a possibilidade ou não de a estrutura ter sido danificado por conta do alimento. O professor Rodolfo Francisco Haltenhoff Melani, responsável pela disciplina de Odontologia Legal da Faculdade, comentou sobre o assunto em uma palestra feita na Jornada de Odontologia Forense, realizada pela FO no final do mês de agosto.
Mais conhecidos por fazerem identificações humanas, o profissional da área de Odontologia Forense também é responsável por investigar diversos outros casos que desafiam a Justiça e Ciência. Por ser um campo de atuação ainda pouco difundido no país, a Faculdade realiza o evento com o objetivo de diminuir as distâncias entre os profissionais dessa área e proporcionar a troca de experiências entre eles.
O trabalho dos “investigadores”
O OFlab, presta serviços à comunidade como perícias nas áreas criminal, cível e trabalhista. Os casos podem envolver análises de danos em acidentes de trabalho e até mesmo pareceres sobre marcas de mordidas. Quase como detetives, esses profissionais buscam respostas por meio de provas técnicas, que são utilizadas pela Justiça.
Em seu segundo ano, o evento foi um momento mostrar os últimos avanços em estudos e em tecnologias do ramo. “Essa é a oportunidade de impulsionar e mostrar uma série de pesquisas que estão sendo feitas atualmente”, afirma Melani, que coordenou o encontro. O público presente foi formado por profissionais, alunos e interessados de todo o Brasil.
As diversas palestras realizadas apresentaram os avanços nas técnicas de identificação, que pode ser feita inclusive pela análise do sorriso de uma pessoa. “Você tem como referência os dentes e seus pontos anatômicos, o que possibilita comparar as similaridades das duas amostras e fazer a identificação”, comenta Melani.
Nos dois dias de evento, foram abordados temas como fraudes em documentos e registros técnicos em Odontologia, campo de atuação do profissional em assistência técnica pericial, novas tecnologias tridimensionais para a área, perspectivas atuais da reconstrução facial e muitos outros que envolvem a profissão.
A importância do apuro técnico
A Odontologia Forense tem aplicações em diversas áreas do conhecimento. Não se trata de uma especialidade, como contou Melani em sua palestra sobre “O emprego de registros e técnicas auxiliares em Odontologia Forense”, uma vez que necessita de saberes de outras áreas. Cada vez mais a cresce o número de práticas facilitadoras que viabilizam a aplicação dos métodos reconstrutivos e comparativos para identificações humanas, como novos softwares, equipamentos de tomografias e scanners. Em sua explicação, o doutor destacou dois objetivos principais da profissão: oferecer serviços de alto nível para a comunidade e conseguir conservar o material biológico recolhido para que o ramo acadêmico desenvolva novas pesquisas com base nesses recursos. “Os aspectos técnicos são determinantes para bons resultados”, completou.