São Paulo (AUN - USP) - Nos dias 13 e 14 de novembro, acontecerá, no auditório da Faculdade de Educação (FE-USP), o evento "Educação Ameríndia e Ancestralidades: impasses do ensino formal". O objetivo é discutir as tentativas de implementação do ensino público tradicional nas comunidades indígenas espalhadas pelo país. Estarão presentes, entre outros, Daniel Munduruku, coordenador do Magind, projeto estadual de formação de professores índios e Amilton Pellegrino, pesquisador da poética Guarany do ouvir, "método" ancestral de transmissão da cultura desse povo.
Segundo o organizador do evento, o professor Marcos Ferreira dos Santos, é importante discutir a autonomia desses povos sobre a questão, "a gente tem que perguntar para o outro se ele quer nossa ajuda, tem de haver um diálogo entre as duas cosmovisões, a ocidental, européia e a indígena".
O Magind, último projeto abordando a educação ameríndia, seria um exemplo disso. Apesar de formar educadores oriundos das nações indígenas, a iniciativa estadual, segundo o professor, ainda ignora aspectos importantes da cultura desses povos e não ajuda na construção de um diálogo entre o método de ensino ocidental e o de cada nação indígena.
Segundo ele, há a imposição de um "kit ocidental", que incluiria a própria figura do professor e outras coisas, aparentemente banais, como as carteiras, a lousa, o giz. Cada povo tem uma maneira de transmitir seus valores e sua história, que não inclui estes elementos. A própria noção de avaliação ou de calendário já seria um tipo de imposição cultural.
Os Guaranys, por exemplo, transmitem a sua cultura, suas tradições, seus mitos criadores por meio de cantos ancestrais no mesmo ambiente onde são realizados seus ritos religiosos. Educação e religião estão juntos, ao contrário, de nossa escola tradicional.
Outro problema seria a transformação da cultura indígena em um conhecimento instrumental ao sintetizá-la em uma disciplina específica. Por exemplo, não há, em nossas escolas tradicionais, a disciplina "Cultura ocidental". A apreensão de nossa cultura se dá por meio das diversas disciplinas - como história e português - a fim de vivê-la em nosso cotidiano e não apenas conhecê-la como ferramenta de pesquisa ou pré-requisito para a colação de grau.
O evento começará na próxima quinta-feira, às 18:30, com a apresentação “Iby Poran – canto da terra” com o coral da FEUSP e contará com três mesas redondas, uma na quinta às 19h e duas na sexta, às 14h e 18h. O auditório da FEUSP fica na avenida da Universidade, número 308, no bloco B. Informações no telefone 3815-0232 ou no e-mail marcosfe@usp.br. A entrada é franca.