São Paulo (AUN - USP) - Um anestésico desenvolvido na Faculdade de Odontologia promete tornar as cirurgias de extração de dentes do siso menos traumáticas aos pacientes, pois nem sempre o dentista consegue prever quanto tempo levará o procedimento. Em muitos casos, é necessária uma nova aplicação de anestesia, o que intimida ainda mais aquele que está sendo operado.
Para amenizar este sofrimento, a professora Borsatti, da Clínica Integrada da faculdade resolveu adaptar o primeiro anestésico brasileiro, produzido no Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB) pela pesquisadora Maria Simonetti, em 2001. A droga, batizada inicialmente de simocaína (em referência ao sobrenome Simonetti) têm como matéria prima a bupivacaína (comercializada como Novabupi), o anestésico injetável de uso local mais utilizado no mundo.
Na área bucal, a bupivacaína passou por ajustes semelhantes aos promovidos pela pesquisadora do ICB. Por ser mais duradoura que outros anestésicos odontológicos existentes no mercado, a nova droga permite uma cirurgia mais tranqüila, sem a necessidade de novas injeções. Além disso, ela é menos tóxica para o coração. Caso o dentista erre na aplicação, um anestésico pode até provocar arritmia cardíaca. Outra vantagem do novo medicamento é o seu efeito analgésico, que evita a dor após a cirurgia. Nas palavras da professora Borsatti, os benefícios da bupivacaína para a odontologia são “um efeito de longa duração, menos cardiotóxico que os outros anestésicos, além de analgesia pós-operatória”.
As adaptações da bupivacaína promovidas pelo ICB e pela Odontologia são semelhantes. Em ambas, foram feitos apenas ajustes de proporções e a fórmula estrutural da bupivacaína não foi mudada. Parte dos componentes que faziam mal foram retirados e aumentada a dose daqueles que faziam bem. No entanto, a modificação da professora Borsatti retirou ainda mais dos ingredientes “maus”, úteis para os médicos e aumentou a dos “bons”. É por isso que os efeitos da bupivacaína do ICB, usada na medicina, é diferente daqueles na odontologia. A bupivacaína médica é indicada para partos, pois possui propriedades relaxantes da musculatura, por exemplo.
Dentro de um mesmo frasco de qualquer anestésico existem dois tipos de fórmulas, as “boas” e as “más”. Elas são como as mãos, com o mesmo formato, mas opostas opticamente. Estes dois tipos de fórmulas são chamados isômeros. Os isômeros têm as mesmas propriedades físicas e químicas, mas se diferem quanto às propriedades fisiológicas (por isso são “boas” ou “más”).
A bupivacaína médica contém 75% do isômero “bom” e 25% do “mau”. Este último confere tanto seu grau tóxico quanto a sua potência e propriedades relaxantes. Não é possível fabricar um anestésico com 100 de isômeros “bons”, pois segundo a professora Borsatti, “é preciso ter um pouquinho do joio no trigo”. Suas pesquisas indicam que as proporções ideais para a bupivacaína odontológica reduzem para 10% a quantidade tóxica. Por isso ela é menos tóxica que os anestésicos médicos e os outros odontológicos. Deste modo, sua potência e propriedades relaxantes também caem, o que é benéfico para cirurgias tópicas e de extrações.
A bupivacaína odontológica será produzida pelo laboratório nacional Cristália e ainda não tem data para ser comercializada.