ISSN 2359-5191

23/09/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 89 - Sociedade - Instituto de Estudos Brasileiros
Pesquisadores discutem as vertentes do conceito do homem cordial buarquiano

São Paulo (AUN - USP) - Os professores Heloísa Starling e João Cezar de Castro Rocha foram os convidados da mesa Cordialidade e Contemporaneidade, da série de seminários Atualidade de Sérgio Buarque de Holanda, promovida pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB). Os palestrantes discutiram o mais famoso conceito de Sérgio Buarque e suas implicações, comparando com a música de seu filho Chico Buarque, além de discutir as alterações feitas pelo autor em seu próprio livro Raízes do Brasil.

Heloísa Starling destacou as diferenças e pontos de diálogo entre as obras de Sérgio e Chico Buarque de Holanda, analisando como Chico se apropria do conceito criado pelo pai em suas canções. Para ela, o pensamento radical e a reflexão do cotidiano do país são características em comum dos Buarque de Holanda. A professora analisou as músicas Fado Tropical, Pelas Tabelas, Sinhá e Querido diário, destacando como a cordialidade aparece em cada uma delas. Todas as canções, no entanto, narram um tempo diferente do tempo em que a canção foi gravada, além de dar vida a vozes que emudeceram. Elas ainda mostram a instabilidade do homem cordial, que mistura sua vida pública à privada. Nas palavras do historiador, o homem cordial possui uma “compaixão inata e uma crueldade inútil”, adequando tudo ao seu estado de espírito.

Sérgio Buarque de Holanda escreveu que a modernidade iria, aos poucos, extinguir o homem cordial da cena brasileira, o que não se concretizou. A ideia de que a cordialidade limita a vida pública é narrada por Chico nas canções citadas, utilizando um conceito do pai. E essa apropriação das ideias de Sérgio por seu filho ocorrem durante toda sua carreira, embora com intensidades diferentes, como demonstrou a professora Heloisa.

Complementando a fala de Heloísa Starling, o pesquisador João Cézar de Castro Rocha introduziu a ideia de que a cordialidade é, na verdade, um conceito buarquiano com conteúdo freireano, pois é Gilberto Freyre que associa a cordialidade ao cotidiano brasileiro. Para o professor, Sérgio Buarque e Freyre estão ombreados em importância para a produção intelectual do Brasil, e formam a maior rivalidade literária do século 20.

Rocha destacou as principais alterações nas edições de Raízes do Brasil feitas por Sérgio Buarque de Holanda, de modo a mostrar que suas modificações tiveram cunho político (quando há exclusão de nomes e referências, mas sem mudar o argumento) e hermenêutico (modificações que alteraram o sentido do texto). Nas exclusões de referências, estão incluídas citações a Gilberto Freyre, o que corrobora a ideia de rivalidade literária. O professor classificou Raízes do Brasil como um “livro problema”, pois considera suas modificações fundamentais. Para ele, isso explica o porque da resistência de estudiosos em analisarem a fundo tais modificações: “Não há problema em alterar o texto, o problema está nos pesquisadores em resistir à essas mudanças. O próprio Sérgio Buarque não via problemas em alterar seu texto. Um de seus grandes méritos foi tornar seu livro problema ainda mais problemático”.

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