São Paulo (AUN - USP) - Dando continuidade à série de seminários Atualidade de Sérgio Buarque de Holanda, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) organizou a mesa-redonda Império e Política, no dia 14, para debater a respeito do recém lançado Capítulos de História do Império, de autoria do historiador. Capítulos consiste na reescrita de trechos do livro Do Império à República, que Sérgio Buarque reeditava, mas que acabou não concluindo. Para debater a respeito foram chamados os professores Richard Graham e Maria Odila Leite da Silva Dias.
Os professores expuseram os pontos centrais da obra, que, em linhas gerais, analisa minuciosamente o perfil de D. Pedro II, a instabilidade política da época e a estrutura colonial da sociedade brasileira. Maria Odila destaca que os Capítulos têm humor e uma escrita mais leve e informal que a usual de Sérgio Buarque de Holanda, fato que ela credita ao tom inacabado e não revisado dos trechos.
No livro, o historiador se opõe à tradição que pensava que o império dialogava com as elites rurais do Brasil. Para ele é a elite urbana que merece destaque na formação social da época e quem fazia a política brasileira. Sérgio insiste que a sociedade do império era a mesma da época colonial. A estrutura permaneceu imóvel, mesmo abolida a escravidão. “O império não conseguiu mudar isso, e o Brasil continuou seguindo o falso liberalismo de quem fez a sua independência”, acrescenta a professora. O pesquisador norte-americano Richard Graham descreveu ainda as eleições da época como forma de demonstrar essa característica da sociedade brasileira. Para ele, as eleições eram verdadeiros espetáculos. Havia muita instabilidade nos gabinetes da Capital, e a razão real das eleições era legitimar as relações sociais e políticas de cada lugar. “As pessoas ficavam no poder até garantirem a vitória de seu partido, o que fazia com que os atos eleitorais se repetissem com grande frequência”.
Outro aspecto que chama a atenção na nova obra é a descrição da personalidade do imperador Pedro II, que, para Sérgio, é importante para entender a política brasileira daquele momento. Para Sérgio Buarque ninguém nunca teve tanto poder nas mãos quanto Pedro II. Segundo sua análise, o imperador nunca falava com muita autoridade, dando a impressão que reinava mas não governava. “Mas Sérgio acha que ele além de governar, governava sozinho, passando com sucesso a imagem desejada”, diz Maria Odila. Para Sérgio Buarque de Holanda, o sistema representativo brasileiro estava na figura do imperador, e administração era improvisada e não funcionava em grande parte por causa de seu próprio temperamento. A esta ideia, Richard Graham acrescenta que “Pedro II era sério e trabalhador, mas sem coragem e imaginação para agir”, além de temeroso a reformas. Sérgio Buarque de Holanda acreditava que o imperador também não tinha ideia do conjunto da sociedade do Brasil, justamente por essa sua característica.
A análise dos Capítulos de História do Império permite observar que, aos olhos de um dos maiores intelectuais brasileiros, o império tinha apenas uma fachada liberal, e nem uma burguesia de fato existia. Em sua opinião, é muito difícil para quem estuda a história política do império enxergar o país, pois ele estava escondido por trás dos documentos. “Sérgio acreditava que forjar as instituições do império foi trabalho de quem queria esconder as verdadeiras relações sociais vigentes no Brasil daquele tempo”, completa Maria Odila. Agora, com a nova publicação, as relações foram desvendadas e expostas a todos os brasileiros interessados em sua história, através do cuidado metodológico característico de Sérgio Buarque de Holanda.