ISSN 2359-5191

28/09/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 91 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Equipe da USP participa de campeonato mundial de biologia sintética

São Paulo (AUN - USP) - Alunos da USP estão se organizando para participar do iGEM, uma olimpíada de biologia sintética organizada anualmente pelo Massachussets Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. A participação do Brasil neste campeonato teve início em 2009, com um projeto elaborado por um grupo da Unicamp.

A biologia sintética consiste em trabalhar com matéria orgânica com o objetivo de gerar soluções para problemas até então insolúveis ou, ainda, realizar uma tarefa de maneira mais eficiente. Pode-se dizer, dessa forma, que seu campo de atuação é o design e construção de novas funções biológicas e sistemas não encontrados na natureza.

A maior parte desse processo se dá por meio da modificação do DNA de organismos, por meio da incorporação de seqüências de ácidos nucléicos (ou seja, pedaços de material genético) a um genoma preexistente. Em outras palavras, o trabalho de um biólogo sintético é análogo ao de um programador de computadores. Assim como programadores conseguem desenvolver programas para desempenhar determinadas funções, de modo que o computador realize as tarefas que ele deseja, o biólogo sintético é capaz de programar a célula para desempenhar certas funções utilizando a linguagem genética.

A ideia de criar um grupo da USP para participar da competição veio do pesquisador Matheus Lopez. Seu objetivo era trazer para a Universidade a biologia sintética propriamente dita, pois havia na vários projetos relacionados com a área, mas nenhum deles específico sobre ela. No meio do ano, entretanto, ele se desligou da Universidade. O grupo de alunos que ele havia formado passou a buscar professores que se dispusessem a assumir o projeto, sem grande êxito. “Até que o professor Carlos Rota sugeriu que a gente parasse de procurar professores e nos assumíssemos como uma iniciativa estudantil”, contou Otto Heringer, estudante de engenharia bioquímica, da Escola de Engenharia de Lorena (EEL-USP) e líder do grupo. “Desde então a gente passou a fazer as reuniões do grupo de forma mais aberta. Antes elas eram voltadas aos alunos do Instituto de Biociências (IB) e do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), mas queremos que o iGEM seja uma iniciativa para unir os Institutos da USP”.

O grupo atualmente é formado por 9 alunos de graduação (sendo um deles da Unesp de Araraquara), 7 pesquisadores da pós-graduação e 7 professores. As unidades envolvidas são: Instituto de Biociências (IB), Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), Instituto de Química (IQ), Instituto de Física (IF), Escola Politécnica (Poli) e Centro de Estudos do Genoma Humano.

Para Otto, o período em que o grupo buscou um professor responsável foi importante para que eles estabelecessem um contato com diversos professores. “Por causa disso, hoje podemos chamá-los para reuniões e perguntar o que eles acham, não como uma pessoa gerenciando o grupo, mas como conselheiros”, conta. Dentro da competição, existem três tipos de participantes: alunos, advisers (conselheiros) e instructors (instrutores). “Hoje nós temos muitos advisers, mas não temos um instructor. Somos nossos próprios instructors. A gente espera que desse grupo de advisers surja um eventual instructor”, lamenta Otto. A função do instructor é coordenar o grupo, organizar as reuniões, buscar patrocínios, entre outras implicações.

Como funciona
A competição tem início em meados de março, quando se iniciam as inscrições. Deste período até por volta de setembro, outubro, o time precisa ter a ideia, fazer as pesquisas, os experimentos e colocar tudo numa página wiki (com possibilidades de edição por parte da equipe, mas não vinculada à Wikipédia e sim ao site principal do iGEM) disponibilizada pela organização da competição. Terminado o prazo, o site de todos os times é bloqueado, de modo que eles não possam mais fazer modificações, e os projetos de cada grupo são avaliados. “Os avaliadores levam em conta também as práticas humanas do projeto, que correspondem à forma que se deu o uso da biologia sintética no âmbito social, como no caso de grupos que usam o projeto para resolver um problema social”, diz Otto.

Feita a avaliação, ocorrem as competições regionais em outubro, que são divididas em quatro grandes grupos: Ásia, Europa, África e Américas. Nesta ocasião os times participam de uma espécie de congresso, no qual apresentam seu projeto e são novamente avaliados.

Os times classificados vão para a competição mundial, que ocorre no MIT. Durante dois dias de evento os projetos escolhidos são reapresentados, juntamente com seus resultados, e os membros da equipe são submetidos a perguntas. De acordo com as regras do concurso, todos podem ser premiados. “Um dos objetivos da competição é ensinar competindo. Então não é como competições de matemática, por exemplo, onde você só mostra aquilo que sabe. Trata-se de um ambiente colaborativo”, explica o líder da equipe da USP. “E até o método de avaliação do iGEM não é comparativo, você faz por merecer dentro dele. Há certas coisas dentro da competição que te garantem uma medalha, você não precisa ser comparado com outro time para isso”.

Depois que todas as equipes que cumpriram os pré-requisitos recebem as medalhas, são escolhidas as seis melhores equipes, e a melhor delas ganha o BioBrick Trophy. Há também prêmios por categorias, como “melhor modelo”, “melhores práticas humanas”, “melhor wiki”, entre outros.

A característica colaborativa da competição é bastante explícita. Durante a construção das wikis, um time pode consultar a de outro para comparar os resultados, por exemplo. Ajudar outra equipe também conta como ponto positivo na hora da avaliação.

Bactérias que identificam poluentes
Os projetos que tem destaque no iGEM são em geral idéias simples, esteticamente bonitas e aplicáveis. Para Otto, um exemplo que se tornou o “garoto-propaganda” do iGEM é o E. Chromi, projeto vencedor de 2009, desenvolvido pelo time de Cambridge. Trata-se de bactérias do tipo E.coli que produzem diferentes colorações de acordo com o gradiente de concentração de uma determinada substância presente no meio, que no caso era um poluente. Ou seja, se tais bactérias são despejadas na água, dependendo da coloração que essa água adquirir é possível saber se ela está apropriada para consumo ou não. O projeto continua se desenvolvendo, tendo se tornado algo autônomo, independente do iGEM. Há planos para, por volta de 2039, ser desenvolvido um iogurte que faz com que as fezes da pessoa que o ingeriu adquiram diferentes colorações, de modo que cada uma delas corresponda a uma enfermidade. Além de agradável, esse método de diagnóstico seria não invasivo, simples de analisar e de baixo custo.

Recursos
Como toda a pesquisa científica, os participantes do iGEM precisam de recursos para financiar o desenvolvimento de seu projeto. Além das despesas de pesquisa, eles devem arcar com as passagens e taxas de participação de todos os integrantes, tanto para a etapa regional quanto a mundial. Por esta razão, apesar do projeto que o time da USP pretende desenvolver para apresentar na competição ainda não estar definido, eles já possuem planos para conseguir os recursos necessários para torná-lo viável. “A gente vai apresentar o projeto escolhido para os professores interessados na área e ver no que eles podem nos ajudar. Porque para dar apoio para nós, os professores vão tirar um pouco do dinheiro que as instituições de financiamento de pesquisa dão para os projetos deles e investir no nosso. Mas para que isso seja aprovado é preciso que nosso projeto tenha algo a ver com o deles”, explica Otto. Ele também pretende procurar apoio de empresas que se interessem pelo projeto.

Referência mundial
Atualmente, o iGEM é uma das referências internacionais em biologia sintética. “Todos os grandes biólogos sintéticos voltam os olhos para o iGEM todos os anos para ver o que acontece por lá. A gente queria fazer parte disso também, temos muito potencial, só falta conseguir organizar e juntas as pessoas”, conclui Otto.

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