ISSN 2359-5191

30/09/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 93 - Meio Ambiente - Instituto de Física
Físico julga desnecessárias novas usinas nucleares

São Paulo (AUN - USP) - O Brasil possui um grande potencial energético natural e renovável. Segundo o físico Edilson Crema, isso torna desnecessário o investimento nacional em energia nuclear. Ele é pesquisador no departamento de Física Nuclear no Instituto de Física (IF) da Universidade de São Paulo (USP) e opinou a respeito da reavaliação do projeto de expansão nuclear no país, anunciado em 15 de setembro.

O governo brasileiro pretendia construir mais quatro usinas nucleares até 2030, além de Angra 3, no estado do Rio de Janeiro, que já está com as obras em andamento. Após o acidente nuclear em Fukushima, no Japão, em março deste ano, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, propôs desacelerar e reavaliar o projeto. Segundo ele, a construção de Angra 3 continuaria, pois parar a obra agora não faria sentido e o custo seria muito elevado.

Apesar disso, Tolmasquim afirmou que o governo não vai abandonar investimentos em energia nuclear no Brasil. "A fonte não está descartada. Observamos o que está acontecendo no mundo para tomar uma decisão cautelosa. Não temos pressa", disse ele.

“Com 200 turbinas, a gente gera a mesma energia de Angra. O Brasil tem grande potencial eólico na Bahia e região. Por que construir mais quatro usinas nucleares?”, questionou Edilson Crema, defensor de recursos naturais e não poluentes. Apesar de não emitir gases poluentes, o lixo radioativo é extremamente perigoso, sua reciclagem ainda é muito cara, o resultado é parcial, e há riscos de acidentes.

Atualmente a maior fonte de energia mundial são os combustíveis fósseis: petróleo, gás natural e carvão. A combustão destes compostos libera uma alta quantidade de gás carbônico, um dos responsáveis pelo efeito estufa e pela chuva ácida. Hoje, há 400 ppm (parte por milhão) de gás carbônico na atmosfera mundial. Em uma atmosfera não poluída, o ideal seria 260 ppm.

Devido a intensa exploração de tais combustíveis, as reservas estão se esgotando. Segundo dados do Conselho Mundial de Energia, é prevista uma evolução do consumo mundial, de 11 Gtoe (tonne of oil equivalent) para 17 Gtoe. Este crescimento exigiria o investimento de 1,5 trilhão de dólares por ano no setor energético. Para suprir tal demanda, a reserva mundial de petróleo vai durar apenas mais 50 anos, a de gás natural mais 60, e a de carvão mais 120 anos.

Segundo o pesquisador, o aumento do uso dos combustíveis fósseis exigiria o desenvolvimento de técnicas para capturar o gás carbônico da atmosfera e armazená-lo em algum lugar. Entretanto, as regiões que armazenariam esse gás seriam quase mortas.

Crema defende que as opções ao combustível fóssil e às usinas nucleares seriam os recursos renováveis, abundantes no Brasil: sol, água e vento. “Falar de energia nuclear no Brasil é uma insanidade”, disse ele.

Segundo o pesquisador, oito milhões de turbinas supririam toda a energia consumida no planeta hoje. “Não é um número impossível. Atualmente são produzidos 80 milhões de automóveis por ano”, completou.

O total de radiação solar incidente no planeta no período de um ano geraria 7.500 vezes mais energia que o consumo anual do total da Terra. A energia solar em maior escala já vem sendo produzida na Espanha e no Egito. Crema explicou que o processo é feito a partir de espelhos parabólicos que no meio passam correntes de água. Quando o sol incide no espelho, a temperatura chega a 300º C, vaporizando a água. Então o vapor d’água gira uma turbina, que gera eletricidade. “A simplicidade é tanta que parece coisa de feira de ciência”, brincou ele.

O pesquisador também comparou o processo de geração da energia solar com a arquitetura de São Paulo. “Na Avenida Paulista têm aqueles prédios espelhados. Pra que? Pra esquentar lá dentro e ter que ligar o ar condicionado? A arquitetura não está a serviço do planeta, ela também poderia contribuir com o meio ambiente”, disse ele.

A opção defendida por Crema, é que a matriz energética mundial se divida na seguinte proporção: 41% solar, 50% eólica e o restante de energia hidráulica. Isso significa 89 mil usinas solares; 3,8 milhões de turbinas eólicas e 270 usinas hidroelétricas no mundo. Apenas o sol, o vento, e a água gerariam os 66, 7 TW (terawatts) demandados até 2020.

A longo prazo, o valor do investimento seria de US$ 10 trilhões, o que não significaria os altos preços da energia no mercado. Segundo o físico, em 2008, a energia elétrica gerada nos EUA custava US$ 0,08 por kW/h, essa energia era gerada prioritariamente por combustíveis fósseis. Mas seria exatamente o mesmo preço da energia solar concentrada. A energia geotérmica custa mais barato: US$ 0,07 por kW/h, e a energia eólica e hidráulica – energia hidrelétrica e das ondas do mar - custam US$ 0,04. “Tudo isso sem liberar uma fumaça”, disse Crema.

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