São Paulo (AUN - USP) - Dar a oportunidade de desenvolver um projeto científico a estudantes de ensino médio e fundamental através de interdisciplinaridade - é o que estão fazendo instituições de pesquisa em Astronomia do país no projeto Observatórios Virtuais, coordenado pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, sob a supervisão do professor Laerte Sodré Junior.
São feitas atividades pedagógicas que desenvolvam nos alunos habilidades do método científico, através de projetos que podem integrar áreas como a Matemática, Computação, Física, Química, História, Geografia e até Antropologia e Artes. As escolas estarão conectadas a telescópios robóticos instalados nos observatórios das instituições envolvidas no projeto - o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Observatório do Valongo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Catarina e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e o Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
“Cada observatório tem um telescópio e uma câmara que tira as imagens”, explica Paulo Henrique Silva de Santana, que faz toda a parte técnica de programação. Paulo começou a trabalhar no projeto em outubro do ano passado, está fazendo cursinho e vai concorrer a uma vaga no Instituto de Física da USP no vestibular deste ano. As ferramentas que desenvolve analisam as imagens obtidas pelos telescópios, “esses programas pegam as informações do telescópio e da câmara e disponibilizam numa página da internet”, explica. Esta fase do projeto está em teste no Observatório Abrahão de Moraes da USP em Valinhos, interior do Estado de São Paulo e em Florianópolis. Um dos telescópios já foi inaugurado no Inpe.
Raquel Yumi Shida produz parte do material didático do Observatórios Virtuais. Além de estar cursando o 5º ano de arquitetura da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), ela é astrônoma amadora e bolsista do projeto. Por enquanto apenas os alunos das escolas associadas têm acesso a esse material didático. Em julho, no 1º Encontro das Escolas Parceiras, foram apresentadas aos professores duas atividades. Uma delas é o estudo de cores das estrelas, que consiste em observação do céu, análise e divulgação de dados obtidos em relatórios. "As atividades têm sempre a Astronomia como tema principal, mas outros recursos são também utilizados para levá-la aos jovens. Sempre há uma mistura de Geografia, Matemática e Computação", diz. Assim, “o trabalho principal do aluno é pegar esses dados na mão e saber fazer alguma coisa com eles, tirar alguma informação”, completa Raquel.
Por enquanto, a iniciativa se estende a quatro escolas do Estado de São Paulo, duas no Rio de Janeiro, uma em Santa Catarina, Rio Grande do Norte e outra no Rio Grande do Sul. Paulo diz que “nesta fase não tem como abrir o projeto para todas escolas porque tudo é muito experimental”. No entanto, “a idéia é abrir para qualquer professor que tenha conhecimento, mande um projeto, peça tempo no observatório”. O IAG, que ainda tem mais quatro professores colaborando no projeto, está propondo investir na capacitação de professores em Astronomia básica. E, uma vez estando preparados, eles vão se sentir mais seguros em desenvolver as atividades propostas e naquelas que desejem desenvolver futuramente.
O grupo acha que levar uma sala de aula inteira para um observatório não é muito viável. Desta maneira, o esquema de trabalho astronômico que o projeto sugere facilita a coordenação das atividades pelo professor, que pode dar a teoria na aula durante o dia e realizar as observações pelo computador à noite.