São Paulo (AUN - USP) - Um estudo feito pela professora da Unifesp, Cláudia Alessandra Tessari, mostrou que a sazonalidade das culturas agrícolas do estado de São Paulo moldou o mercado de trabalho. O trabalho sazonal, que ainda hoje é amplamente utilizado, estava presente desde 1810, sendo utilizado nas tarefas de preparo da terra, plantio, cultivo e colheita, em escala tão importante quanto o trabalho permanente.
A professora apresentou seu estudo na Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis na semana passada, em um seminário organizado pelo grupo de estudos em história econômica Hermes & Clio, com o nome de A rigidez da mão de obra, o trabalho temporário e a flexibilidade dos custos na empresa cafeeira (São Paulo, 1890-1915). A escolha desse período para o estudo se deu pois, segundo Cláudia Tessari, "esse é um período de transição não só entre o trabalho escravo e o trabalho livro mas também entre o colonato e o trabalho predominantemente volante, sazonal". Esse foi um momento de crise da economia cafeicultora, e existem documentos que mostram que os fazendeiros discutiam sobre o problema da sazonalidade da lavoura e apontavam como solução a intensificação do trabalho temporário para redução de custos com a mão de obra.
Sendo a atividade agrícola marcada por descontinuidade, era necessário um tipo de trabalhador que pudesse se adaptar a um padrão descontínuo e temporário. Mas apesar de o trabalho nacional não ser predominante no período, a pesquisadora acredita que esse trabalhador já era importante para estruturar a atividade produtiva. Essa visão contesta a posição encontrada na historiografia de que esse trabalhador era quase marginal nas atividades produtivas, exercendo apenas tarefas residuais e menos importantes.
CláudiaTessari analisou dados de jornais, revistas, boletins e almanaques agrícolas, com o objetivo de entender o papel do trabalhador nacional na atividade econômica da época. Esses documentos traziam calendários agrícolas, que apontavam os meses que se deveria cultivar cada tipo de produto. Seus estudos constataram que as diferentes épocas do cultivo (preparo do solo, plantio, trato e colheita) dos produtos comerciais criava picos de necessidade de mão de obra.
A colheita é a fase que demanda mais mão de obra, seguida pelo plantio. Os períodos de frio ou seca, que em São Paulo correspondem aos meses de abril a setembro, são aqueles em que se deveria fazer a colheita e o plantio das culturas comerciais, como a cana de açúcar, o café.
Além disso, concomitantemente com a colheita, era necessário que se fizesse o beneficiamento do produto (por exemplo, a produção de açúcar a partir da cana). Ainda, os transportes deveriam ser feitos preferencialmente antes da estação chuvosa, pois as chuvas danificavam as estradas; e o tempo seco também era propício para a castração de animais, e as benfeitorias e obras públicas. Portanto, esse era um período que exigia trabalho intenso e precisava de muita mão de obra, pois era a época em que quase todos os trabalhos deveriam ser feitos.
De outubro a março, o período de chuva ou de calor, acontecia exatamente o contrário. As atividades nos campos de cana de açúcar e café eram menos intensas, pois essa era a época do cultivo da cana e do café, atividade que utiliza bem menos mão de obra que a colheita; as estradas se tornavam muitas vezes intransitáveis, as obras era prejudicadas pelas chuvas. Dessa forma, esse período demandava uma quantidade menor de trabalhadores. No entanto, era a época da colheita de milho, arroz, feijão e batata, as culturas de subsistência.
Esses picos de trabalho mais intenso faziam com que fossem necessários números de trabalhadores diferentes durante o ano, e por isso a demanda de mão de obra era muito variável. Além disso, na agricultura, o tempo de produção é maior que o tempo de trabalho. No caso do café, o tempo de produção era próximo a 360 dias, enquanto o tempo de trabalho girava em torno de 175 dias.
A professora aponta também, em seu trabalho que a flutuação na demanda de mão de obra não varia apenas durante o período de um ano, mas também varia muito de ano para ano, especialmente no caso do café.