São Paulo (AUN - USP) - Atender os pacientes com respeito, responsabilidade, acolhimento e atenção deveria ser um princípio básico na conduta médica, segundo a professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e pesquisadora do Centro de Desenvolvimento de Educação Médica “Prof. Eduardo Marcondes” (Cedem), Izabel Cristina Rios. Para ela, a humanização no cuidado médico é considerada apenas profissionalismo em outros países, porque torna o atendimento mais eficiente.
Izabel também é coordenadora da Rede Humaniza do Hospital das Clínicas da FMUSP e trabalha com alunos voluntários do 5º ano de medicina da Universidade para a construção de uma metodologia de ensino médico.
De acordo com ela, a humanização não é algo que se aprende somente com teorias em sala de aula, é preciso exercitar esses valores. Para isso, é importante que os professores das disciplinas práticas das faculdades se conscientizem da importância de uma formação médica mais humanística.
A professora conta que, nas disciplinas da área de humanas do curso de medicina, os alunos aprendem como deve ser a atuação deles junto ao paciente, à equipe e às famílias. O problema é que, quando chegam à parte prática, aprendem condutas que muitas vezes são contrárias ao que foi ensinado em sala de aula. “Falamos como deve ser na teoria, mas a aprendizagem na prática é mais forte, mais marcante”, afirma. “Precisamos incluir a humanização lá na prática, tornar isso mais presente no cotidiano dos estudantes”.
Rede pública
O problema do atendimento não humanizado acontece tanto na rede pública, quanto na particular. Para a professora, as práticas de saúde que vem sendo consagradas estão impregnadas por uma tendência a olhar o outro como apenas um organismo. “Nossa luta pela humanização da área de saúde é quase um movimento de contracultura ao excessivo tecnicismo atual”, afirma.
Apesar de admitir que a rede privada conta com melhores estruturas e um pesado investimento na recepção do paciente, Izabel diz que nela também há um distanciamento e uma dificuldade em valorizar a opinião de quem está sendo atendido.
Na rede pública de saúde, a situação piora. Devido a problemas de gestão e de organização do trabalho, os médicos atendem a altas demandas com poucos recursos, o que gera um ambiente de estresse. “O médico que trabalha com tanta pressão tem mais dificuldades de estar sempre atento e calmo ao atender o paciente. Isso interfere na qualidade da atenção e do atendimento”, diz a professora.