ISSN 2359-5191

13/10/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 97 - Ciência e Tecnologia - Faculdade de Odontologia
Divulgação científica ainda é desafio para universidades
Evento reúne bibliotecários, pesquisadores e editores de veículos científicos para discutir soluções para o problema

São Paulo (AUN - USP) - Segundo o último ranking da THE (Times Higher Education), divulgado na primeira semana de outubro, a Universidade de São Paulo (USP) ocupa a 178° posição entre as melhores universidades do mundo. Entre as 200 primeiras, a instituição é a única representante da América Latina. Um dos critérios usados para definir a posição das universidades é o número de produções científicas publicadas. Apesar de tudo, um grande problema é que, para a sociedade, isso pode permanecer desconhecido e restrito apenas ao âmbito acadêmico local. O Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi) da USP comemora 30 anos em 2012 e repensa seu papel sobre a divulgação científica além dos muros da Universidade.

Para discutir as questões que envolvem o acesso aberto ao conteúdo, o SIBi organiza um ciclo de palestras mensal envolvendo profissionais ligados ao ramo editorial, às universidades e às tecnologias que possibilitam a criação de plataformas para a divulgação das produções. A Faculdade de Odontologia (FO) foi sede do encontro do mês de setembro, que teve como tema as bibliotecas da USP e o acesso universal ao conhecimento.

Os bibliotecários têm papel essencial no processo de divulgação, já que são responsáveis por criar e gerenciar as bibliotecas digitais e os repositórios institucionais. “Os bibliotecários dão o mesmo suporte aos cientistas que os enfermeiros dão para os médicos”, compara Sigmar de Mello Rode, vice-presidente da Associação Brasileira de Editores Científicos.

“Muitos pensam que as bibliotecas estão sumindo, mas pelo contrário. Elas estão cada vez mais prestando serviços”, explica Suely Mara Ferreira, diretora do SIBi, sobre o atual momento da comunicação científica e o novo papel das bibliotecas nesse contexto.

O evento começou com as palavras do ex-reitor da USP, Flávio Fava de Moraes, que introduziu a importância do conhecimento para a geração de novas técnicas e descobertas. “Qualquer nação que queira ter conhecimento precisa ter desenvolvimento e vice-versa. Nossa massa crítica ainda é muito discreta se comparada às dos outros países”, comenta o ex-reitor. Prova disso é a posição que a USP se encontra no ranking da THE, atrás de outras 177 universidades. Enquanto isso, segundo estimativas da The Economist, o Brasil fechará o ano de 2011 como a sétima economia mundial, o que mostra o desequilíbrio entre as prioridades do mercado e dos investimentos em produção científica. O professor também comentou sobre más condutas que são obstáculos para o desenvolvimento científico. Entre elas, o plágio e a “técnica do salame”. Segundo o professor, a última é muito comum no meio acadêmico e consiste na subdivisão de trabalhos para que rendam mais publicações diferentes.

Sigmar de Mello Rode em sua colocação durante o evento explica que a ética não avalia apenas casos de plágio ou outros delitos. “Quando fazemos uma pesquisa e não apresentamos o resultado [para a sociedade], não estamos sendo éticos”, revela. Sobre o contexto digital, o professor destaca a importância das novas ferramentas também no controle ao plágio. “A mesma mídia digital que facilita o ‘copiar-colar’ é fundamental na comparação dos textos e na comprovação da má conduta por meio de softwares”.

Abel Packer, diretor da ScieELO, comentou sobre a importância do portal para o acesso universal científico. O site abriga revistas e periódicos com o objetivo de melhorar a qualidade, aumentar a visibilidade, o acesso e o impacto da publicação. Com 13 anos de história, Packer destaca que um dos novos desafios é o avanço para os dispositivos móveis, já que a popularização dos smartphones poderia contribuir para a difusão do conteúdo científico para mais pessoas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) identifica o fenômeno conhecido como “know-do gap”, que é justamente esse, como conta o professor. Muitas vezes uma técnica mais avançada já existe, mas a antiquada ainda é usada por não se ter conhecimento da mais atual. “Muita gente pensa que o Google solucionaria o problema. Já existe uma extensa literatura sobre como a ferramenta estaria moldando nosso modo de pensar, a nossa capacidade de aprender e o nosso conhecimento”, comenta Packer sobre a necessidade de desmistificar o poder do Google como única fonte de pesquisas.

Dois conceitos estão por trás do fenômeno mundial do acesso aberto, segundo o professor. O primeiro é a visão de que o conhecimento científico é um bem público. O segundo é que a pesquisa financiada por dinheiro público deve estar acessível a todos. Parker ainda destaca que a possibilidade de qualquer pessoa do planeta ter acesso às publicações transformou o conhecimento online em uma espécie de “biblioteca universal”. “Não é um lugar como era o sonho com a Biblioteca de Alexandria, mas é uma rede”, explica. Mas um dos desafios ainda é a linguagem. Packer explica que o inglês é determinante para que um artigo seja mais citado. “Artigos em inglês tem o dobro de citações em publicações nacionais. Quando publicados em periódicos internacionais, esse número cresce cinco vezes”, completa.

O professor Ewout ter Haar, do Instituto de Física (IF) e coordenador do sistema Stoa, a rede social da USP, falou um pouco sobre as novas tecnologias de publicação. “O desejo de todo cientista é de compartilhar, que fica cada vez maior com os avanços digitais”. Para o professor, as novas tecnologias aceleram a produção do conhecimento. O Stoa é um sistema que integra plataformas da USP, unindo professores, alunos e funcionários em um mesmo ambiente para fins acadêmicos e troca de ideias. Em seus dois primeiros anos de funcionamento, são mais de 10 mil pessoas já utilizando a ferramenta e 120 mil acessos mensais.

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