São Paulo (AUN - USP) - O relatório final do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) está em processo de finalização, e seus resultados serão apresentados na conferência Rio+ 20, em 2012. Esta foi a informação dada pelo professor Tércio Ambrizzi, diretor do Instituto de Astronomia e Geofísica (IAG) da USP, após participar de reunião com o grupo de principais autores do relatório, que estão desenvolvendo os capítulos do volume das bases científicas de mudanças climáticas para a América do Sul, com ênfase no Brasil.
Esses autores constituem o grupo de trabalho ligado à avaliação do aspecto científico do sistema climático e suas mudanças. “O que nós estamos fazendo é olhar a literatura e revisando qual o conteúdo associado a esses diversos tópicos” explicou Tércio. Ele é meteorologista e juntamente com o oceanógrafo Moacyr Araújo, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é coordenador do grupo responsável pelas bases científicas do PBMC.
Além deste, o projeto está dividido em mais dois grupos. Um trata da identificação de impactos e vulnerabilidades geradas nos sistemas naturais e sócio-econômicos, por conta das mudanças de clima e suas prováveis conseqüências. O terceiro grupo estuda as possíveis ações de mitigação do processo de mudanças climáticas.
O PBMC foi criado em 2009, e visava construir uma nova base de informações sobre a situação climática brasileira. Segundo o ministro do Meio Ambiente da época, Carlos Minc, os dados atuais a respeito do tema estão defasados. O projeto foi uma iniciativa do Ministério do Meio-Ambiente em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, com inspiração no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU.
A finalização do relatório deve acontecer até o início de 2012, para ser apresentado na conferência Rio+20, que ocorrerá entre 4 e 6 junho no Rio de Janeiro. O evento, oficialmente chamado de Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, é uma iniciativa da ONU. A entidade considera que o Rio +20 será um dos eventos mais importantes para o planeta na próxima década e será uma resposta para a crise econômica de 2008, ainda não superada. O evento acontecerá 20 anos após a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, outra iniciativa da ONU, conhecida como Rio-92.
O professor Tércio se queixou sobre a conclusão dos relatórios. “O andamento é sempre um pouco mais lento do que se espera, já que a comunidade brasileira não é tão grande. Aqui têm muitos cientistas, mas comparando com a comunidade internacional, nós ainda somos poucos fazendo muito”, justificou.
O relatório vai apresentar a atualização sobre a situação do Brasil em relação às mudanças climáticas, os riscos, efeitos e impactos sobre o desenvolvimento do País. “O relatório não deixa de ser uma contribuição científica da comunidade. A ação em função do relatório é uma função mais a nível dos tomadores de decisões, ou seja, do próprio governo”, disse Tércio.
O PBMC não propõe propostas práticas. Ele apenas apresenta o panorama da situação, e as ações a partir daí caberiam ao governo. “Se o estudo está indicando que é tendência de uma determinada região chover mais ou chover menos, essa é uma região foco que deve ser trabalhada pelo governo. Esperemos que não acabe em 2012, eles vão verificar que a contribuição do painel vai ser importante até para dar direção ao próprio governo e suas tomadas de decisões”, falou.
Outra aplicação prática do relatório é a identificação de lacunas científicas. Segundo Tércio, durante o levantamento dos dados científicos, foi possível perceber que o Estado de São Paulo, por exemplo, por ser muito rico, desenvolve projetos em diversas áreas, mas quando se busca estudos de clima relacionados à região central do Brasil, quase não há. Essas são regiões em que o governo poderia trabalhar para incentivar o desenvolvimento de pesquisas.
O relatório também deve servir de incentivo à pesquisa, os estudantes terão um guia do que já se conhece hoje, e o que falta ser desenvolvido. O resultado disso pode ser a motivação extra pra que eles desenvolvam projetos em áreas mais especificas ou em áreas mais carentes do país.
O Brasil foi pioneiro na iniciativa de se propor a fazer um painel completo e atualizado sobre as mudanças climáticas em seu território. Nenhum outro país fez um estudo semelhante, com amplitude nacional. O que se tinha até então eram análises e estudos regionais distintos, sem nenhuma unidade de projeto, que serviam como base para políticas governamentais. Segundo o professor, o modelo brasileiro está sendo copiado pela Índia, que também pretende construir um painel nacional.
Apesar de ser uma iniciativa de setores do governo, a idéia é não haver intervenção governamental no PBMC. Foi criado um comitê executivo e um científico, de modo que os coordenadores dos grupos de trabalho estão sobre a égide do científico. O comitê executivo tem representantes da Academia Brasileira de Ciências, do CNPq, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e dos próprios Ministérios do Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia.
O projeto garantiu a reunião de um grupo de especialistas de diversas áreas, capazes de informar com precisão a situação climática brasileira. “Espero que o PBMC não seja criado apenas com o propósito do Rio+20, mas também que permaneça como referência de informação segura para população e para sociedade. Porque até agora é como se todos fossem técnicos de futebol, antes todo mundo opinava”, disse Tércio.
Segundo o professor, a USP se demonstra engajada no tema, já que muitos autores líderes do relatório do PBMC são da Universidade, onde tammbém foi criado um grupo de apoio a pesquisas climáticas, que abrange pesquisadores das mais diversas áreas da instituição que trabalham o mesmo tema, como o Instituto de Física, o Instituto de Oceanografia, o Instituto de Geociências, a Faculdade de Economia e Administração, entre outros.