ISSN 2359-5191

14/10/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 98 - Saúde - Instituto de Biociências
Estudos comprovam eficácia de “fisioterapia mental”
Pesquisa do Instituto de Biociências mostrou que a imaginação é capaz de alterar os circuitos cerebrais responsáveis pela aquisição de habilidades

São Paulo (AUN - USP) - Imaginar-se exercendo uma atividade aumenta a aptidão para realizá-la, concluiu pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Neurociência e Comportamento, do Instituto de Biociências (IB) da USP. A eficácia da “fisioterapia mental” já foi comprovada por pessoas que, devido a alguma enfermidade ou acidente, ficam de cama. Aquelas que se imaginam praticando os movimentos que ainda não podem fazer apresentam resultados mais rápidos. O treinamento mental também é parte importante da rotina de ginastas olímpicos.

A explicação para esse fenômeno se encontra na formação da memória, que não diz respeito apenas a lembranças, mas está diretamente ligada às habilidades adquiridas ao longo da vida. Existem diferentes circuitos do sistema nervoso que são responsáveis por diferentes tipos de memórias. “A memória que você usa para andar de bicicleta, por exemplo, é diferente da memória que você usa para se lembrar de quando recebeu a notícia de que passou no vestibular”, afirma o professor Gilberto Xavier, responsável pelo laboratório. A primeira delas se refere a habilidades adquiridas por meio de treino repetitivo e é conhecida como memória implícita, ou de procedimentos. Já a segunda é a memória de aprendizagem por experiência única.

Quando uma criança aprende, ela ativa circuitos do sistema nervoso. Ao ser exposta a um cachorro, por exemplo, e ouvir a mãe chamá-lo de “au au”, seu sistema nervoso grava as características do animal e cria um circuito para ele. A memória funciona por reativação desses circuitos, então ao se lembrar de um cachorro a criança coloca em atividade o circuito criado. Por esta razão, essa mesma criança, ao ver um gato, vai chamá-lo de “au au”, devido a características comuns aos dois animais. Quando um adulto a corrige e nomeia o animal novo, o sistema nervoso irá discriminar o gato do cachorro e adicionar um circuito ao original.

Isso explica porque as pessoas costumam se lembrar de elementos por meio de grupos associativos. “Se eu te pedir para citar todos os animais que você conhece, em geral virão primeiro todos os quadrúpedes. Quando você ativa o circuito do cachorro, o do gato está associado a ele, então é mais fácil que ele seja ativado em seguida”, explica Xavier. “Após uma pausa, costumam vir as aves, depois répteis e anfíbios, peixes – no meio deles vem baleia e golfinho que, apesar de não serem peixes, são resgatados juntos dada a similaridade de meios – e depois, em geral, invertebrados. Para 70% das pessoas a ordem seria mais ou menos assim”.

Os pesquisadores do laboratório queriam descobrir até que ponto é possível desenvolver habilidades, ou seja, memória de procedimentos, através do controle da imaginação. “Fizemos um experimento em que a gente pedia para a pessoa escrever determinadas palavras num painel transparente imaginário de modo que outra pessoa, sentada de frente para ela, pudesse ler”, conta o professor. Depois de fazer esse esforço de concentração para imaginar as letras invertidas, se essa pessoa ler um texto com palavras invertidas ela desempenhará essa tarefa tão bem quanto alguém que tenha sido treinado com as palavras escritas ao invés de mentalizadas.

Uma das maiores implicações disso é trazer benefícios para pessoas que estão de cama por qualquer razão e não podem fazer exercícios. Se uma pessoa em tais condições se imaginar realizando atividades físicas, seu processo de recuperação é muito mais rápido. Ou seja, “é uma espécie de fisioterapia mental”, explica Xavier.

No caso de ginastas olímpicos, esse tipo de treinamento é essencial para seu desempenho. “Do ponto de vista muscular, em seis meses você deixa uma pessoa preparada. Mas não é depois de seis meses que ela consegue fazer as acrobacias. O treinamento que os ginastas tem, de verdade, é um treinamento nervoso”, ressalta ele. Resultados obtidos no laboratório sugerem que em alguns casos a imaginação produz aquisição mais rápida do que a aquisição de “fora para dentro”. Isso se explica pelo fato de que na imaginação o próprio sistema está se autocontrolando, se automodificando. “Então se você se imagina fazendo coisas, isso vai transformando o seu sistema, alterando os circuitos, de modo que você passa a desempenhar a tarefa com muito mais habilidade”, conclui Xavier.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br