ISSN 2359-5191

19/10/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 101 - Economia e Política - Escola de Educação Física e Esporte
DCE promove discussão sobre organização da Copa de 2014
Palestrantes questionam as condições de planejamento e estrutura do Brasil para receber os grandes eventos esportivos que estão por vir

São Paulo (AUN - USP) - Os principais problemas e as possíveis soluções para que o país receba adequadamente a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo (2014) e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016) foram discutidos no seminário A Copa do Mundo é Nossa?. O evento aconteceu no Auditório Freitas Nobre da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e contou com a participação de José Cruz, jornalista de economia esportiva, Mateus Novaes, da Associação Nacional dos Torcedores (ANT), e Kátia Rubio, professora da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE). A realização é do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de São Paulo (DCE Livre Alexandre Vannuchi Leme).

Kátia Rubio inicia a discussão colocando em cheque as justificativas governamentais para abrigar os megaeventos que estão por vir. Apesar de considerar este um momento privilegiado, pela visibilidade que o país ganhará, ela faz uma firme ressalva, para o caso dos eventos darem errado.

Ela afirma que o país pode ter um sério prejuízo de sua imagem se as condições de estrutura e cidadania não forem adequadas às necessidades de um evento do porte de uma Copa do Mundo. É de conhecimento geral que faltam aeroportos, estrutura interna de transportes, melhora do setor hoteleiro somados aos gastos de reformas dos estádios, grande parte, obras feitas com dinheiro público. Como exemplo, ela usa o Panamericano de 2007, no Rio de Janeiro, que teve inúmeras obras com capital não declarado e que, hoje, tem pequeníssima utilização. “Temos o direito de acompanhar a movimentação do dinheiro público. Em todas as outras sedes isso aconteceu, no Brasil não”, diz.

Além disso, a parte das obras que será financiada (ou reembolsada) por capitais privados provocará uma perda de soberania do governo durante os jogos, por se tratarem de propriedades privadas. As empresas atenderiam exigências da Fifa para receber os jogos, passando por cima de leis brasileiras, como a meia-entrada para estudantes. “Vamos abrir mão dos direitos? Abrir mão da meia-entrada, que foi uma conquista histórica? Não! É a oportunidade de cobrar os governantes e nos mobilizarmos para garantir que teremos nossos direitos assegurados”, explica Kátia.

Ainda segundo ela, a principal função social da população é brigar pela participação no processo. José Cruz concorda e completa: “Nós somos uma classe aleijada no processo e organização da Copa”. O jornalista coloca, como outro problema, o fato de não ter sido feita uma comissão organizadora do evento, sendo delegado tudo à Confederação Brasileira de Futebol (CBF). De acordo com Cruz, isto aliado à transição de governo causa confusão nos acordos firmados com a Fifa e prejudica o planejamento em nível governamental.

Como exemplo a ser seguido pelo Brasil, a professora Kátia Rubio cita a cidade de Barcelona, que recebeu os Jogos Olímpicos de 1992. Ela conta que a cidade conseguiu reverter todo o investimento nos jogos em benefícios para seus habitantes. A estrutura esportiva é utilizada até hoje, com aulas e serviços, e a capacitação pessoal dos trabalhadores tornou-se uma herança. Para Kátia, devem ser tomadas iniciativas nessa direção para que o país possa tirar vantagens próprias da passagem desses grandes eventos: “Até agora, o que está sendo feito? Nada! É um processo pedagógico mais do que um processo profissional. Leva tempo”. Sobre a utilização de estrutura, José Cruz lembra: “Em Brasília será construído um estádio para 75 mil pessoas. Quando isso vai ser utilizado devidamente depois? O Gama está na quarta divisão do Campeonato Brasileiro! O Brasiliense na terceira!”

Já Mateus Novaes têm um discurso preocupado com o povo, seja torcedor ou não. Ele inicia abordando a questão das desapropriações, especialmente em áreas de favelas, às margens dos locais de jogos ou no caminho de instalações de estrutura para comportar o aumento de turistas nas cidades. Oficialmente, seriam mais de 100 mil desalojados, mas Novaes garante que os números são bem maiores. Com as remoções e ingressos (provavelmente) caros, o torcedor que via na Copa um sonho realizado, nota um pesadelo iminente.

Para ele, as instituições envolvidas são outro problema, voltando, inclusive, ao ponto da representatividade: “É fácil dizer ‘Fora Ricardo Teixeira’, mas não basta tirar. Tem que ver quem vai entrar no lugar! São os mesmos caras que vão escolher o próximo e sempre pode piorar. O certo seria nós escolhermos o representante”. “Como uma associação de torcedores, a ANT não é contra a realização da Copa. Nem pode ser! A gente é contra as maneiras que ela está sendo realizada”, explica Novaes.

Na última quinta-feira, a Fifa liberou, oficialmente, a tabela do campeonato e as 12 cidades-sede do Mundial de 2014. São Paulo receberá a abertura, no futuro estádio do Corinthians, em Itaquera, e o Maracanã (RJ) receberá a final.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br