São Paulo (AUN - USP) - Essa é a questão colocada na mesa Formas e estratégias de comunicação: Sociedade, museus, centros de ciência, comunidades, integrante do Simpósio Brasil-Índia: Construindo Redes de Conhecimento, uma série de palestras promovidas pela Universidade de São Paulo em parceria com universidades indianas.
A palestra contou com a presença de dois professores homenageados na abertura do evento, Prakash Chandra Vyas e Ernest Wolfgang Hamburger, pioneiros na comunicação científica na Índia e no Brasil, respectivamente.
Ambos apontaram a importância da divulgação de ciência, tanto para o pesquisador quanto para a sociedade. Vyas começou sua apresentação dizendo que um cientista tem que ser comunicador de ciência, “todo cientista tem que ter o interesse de comunicar o que é feito no laboratório”.
Hamburger concordou com essa afirmação de Vyas, e acrescentou que a “comunicação da ciência para o grande público é importante para que o cientista tenha noção da conseqüência de suas pesquisas”.
Vyas apontou que a Índia é o segundo país que mais usa celular no mundo, e mostrou esse dado como um exemplo de como a ciência pode mudar a vida das pessoas. Na apresentação, o professor usou a foto de uma mulher analfabeta usando celular para ilustrar essa situação.
“É preciso entender que o objetivo da ciência é melhorar a vida das pessoas, se os cientistas não conseguem compreender isso, existe um problema”, explica o professor Prakash, e ainda afirma que o conhecimento e a ciência são necessários para que as pessoas possam exercer plenamente sua cidadania. Para ele, um comunicador de ciência deve também ser um ativista da comunicação e difusão da ciência e deve entender quais são as necessidades das pessoas que estão recebendo as informações.
Educação e comunicação de ciência
O professor Hamburger enfatizou a questão da educação como um tema importante para pensarmos a comunicação de ciência e a divulgação científica. Ainda que 95% das crianças estejam matriculadas e freqüentem as escolas, a qualidade da educação é muito inferior à considerada ideal.
Nesse cenário, o professor vê a comunicação de ciência como uma forma de atingir as crianças que não tem essa qualidade de ensino necessária. Daí a importância dos museus e espaços de ciência, como o museu Catavento e a Estação Ciência (ambos ficam em São Paulo).
Além disso, Hamburger afirmou que os museus são voltados para a classe média, e contestou esse fato, dizendo que não deveria ser assim. “A ciência deve ir aonde o povo está”, explica, se a maior parte da população não é da classe média, não há motivos para os museus e locais de divulgação de ciência serem voltados para pessoas com esse perfil.
Diversão
Outro palestrante foi Pradeep Kumar, que afirmou ser uma exceção no grupo, já que além de cientista é divulgador de ciência. Kumar é criador do Sciencetoon, cujo objetivo é levar a ciência ao homem leigo.
Kumar diz ter muito orgulho do projeto, que foi criado a fim de despertar um maior interesse nas pessoas, que normalmente não se mostram costumam buscar assuntos relacionados à ciência. Durante a apresentação, foram mostrados muitos exemplos de quadrinhos e sátiras, que usam o humor para difundir a ciência.
Museu Paulista
Uma das exposições da palestra foi feita por Cecília Helena Lorenzini de Salles Oliveira, curadora do Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga. Cecília afirmou que o espaço do museu está em uma competição com outros lugares de divulgação de ciência.
O museu, inaugurado em 1895, é um dos mais visitados do país, que tem como intuito produzir conhecimentos sobre a história do Brasil e também refletir sobre essa história. A curadora apontou algumas grandes contradições presentes no museu, uma delas é a decoração, que não condiz com a realidade, valorizando, por exemplo, heróis nacionais, o que não corresponde à realidade da pesquisa histórica e nem com o que é ensinado nas escolas.
Junto com o questionamento sobre os lugares de disseminação da ciência, há também as questões que podem ser colocadas sobre o lugar da memória – e museus são um lugar de memória – na sociedade de hoje.