ISSN 2359-5191

03/11/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 104 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Ciências Biomédicas
Índia e Brasil discutem importância de comunicar à população sobre biotecnologia

São Paulo (AUN - USP) - Apesar da aparente distância de assuntos como biotecnologia e engenharia genética em relação à sociedade, a necessidade de se comunicar os avanços tecno-científicos nestas áreas torna-se cada vez mais importante pelo impacto direto na vida das pessoas. A bioengenharia passa despercebida no cotidiano, mas ela permeia desde a produção de alimentos, a eficiência da produção agrícola até novos tratamentos médicos e cresce proporcionalmente com os avanços de pesquisas científicas.

Por isso, Pawas Goswami, professor do Departamento de Microbiologia da Faculdade de Ciências Aplicadas de Nova Deli, defende que os novos métodos descobertos devem ser imediatamente comunicados à população em mídias acessíveis como cinema, música e artigos de jornal. Pradeep Kumar, cientista do Conselho de Pesquisa e Industrial (CSIR), criou o Scientoons, uma série que relata o cotidiano nos laboratórios e aproxima os conceitos científicos da população, por meio de histórias em quadrinhos. No Brasil, a série “Cientistas em Quadrinhos” foi lançada com o mesmo objetivo.

Goswami dá exemplos da realidade indiana em que a comunicação de novas técnicas tem um impacto benéfico, como na instrução de pequenos produtores rurais sobre o uso da biotecnologia para melhorar a produção e colheita de alimentos. Além disso, aumentar a disponibilidade de comida a partir de alimentos geneticamente modificados que podem prevenir doenças ou conter praga. O Brasil, que é o segundo país em produção de transgênicos, atrás apenas dos EUA, utiliza a bioengenharia para potencializar o uso da soja e de grãos para produzir biocombustíveis.

Porém, a falta de esclarecimento das pessoas sobre o assunto e a dificuldade da imprensa em relatar com precisão os avanços tecnológicos na área, encobrem o tema de mitos e tabus. Para Carlos Alberto Moreira Leite, professor do departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do Centro de Pesquisas em Biotecnologia da mesma universidade, cada caso deve ser avaliado individualmente. Em termos de preservação, Moreira Leite explica que o Conselho Nacional de Biossegurança, do qual já foi membro, preocupa-se principalmente em preservar a biodiversidade e biossegurança das doenças. O professor garante que apenas são liberados alimentos que não apresentam riscos à saúde e à biodiversidade, mas ressalta que a sociedade também deve confiar no trabalho do Conselho.

Enquanto na área alimentícia a opinião pública tem ressalvas quanto à manipulação genética, quando se trata de tecnologia médica, pacientes não hesitam em aceitar tratamentos gerados a partir da bioengenharia, pontua o médico da USP.

Goswami acredita que é preciso conscientizar as pessoas a respeito dos riscos e benefícios da biotecnologia para melhorar a vida das pessoas. Para tanto, é preciso tornar populares os institutos de pesquisa e laboratórios e dialogar com a imprensa local. “Diagnósticos para a medicina preventiva estão vindo com tudo. É preciso alertar sobre o potencial deste campo, gerar debate”, aconselha o pesquisador.

Aplicações da biotecnologia
O professor Moreira Leite integra o programa CinAPCe (Cooperação Interinstitucional de Apoio à Pesquisa sobre Cérebro), na área que investiga os mecanismos cerebrais que envolvem a epilepsia. De acordo com a pesquisa, 50 milhões de pessoas no mundo são afetadas pela doença, 80% oriundas de países em desenvolvimento. Ele conta que mais de 600 operações foram realizadas para analisar o hipocampo (parte do cérebro responsável pela memória), por meio de ressonâncias magnéticas e estudo do genoma.

Os maiores desafios que o Brasil enfrenta nesta área, explica o professor, são os obstáculos para o financiamento de pesquisas. Para o pesquisador, ainda faltam mecanismos para integrar o conhecimento produzido nas universidades com a indústria. Segundo ele, existe um “hiato entre o que é descoberto e o que é publicado” no País. É necessário despertar uma cultura empreendedora para realizar parcerias com a iniciativa privada e investir de maneira mais eficiente em equipamentos de alta tecnologia. “As pessoas ainda são resistentes no Brasil”, lamenta.

Ainda na área da saúde, a diretora do Centro de Biotecnologia do Instituo Butantan, Luciana Cezar Cerqueira Leite, explica sobre o uso da engenharia genética para produção de vacinas. O Instituto Butantan é membro do Gavi Alliance, organização não governamental que prevê a distribuição de vacinas a custos baixos para países mais pobres, por meio da Unicef. A partir de técnicas de manipulação de células é possível diminuir o componente mais reativo da vacina, e com isso baratear o custo da produção e disponibilizar o produto para o Gavi Alliance. Também é parceiro do Instituto Butantan e membro do Gavi o Serum Institute of India, um dos maiores laboratórios desenvolvedores de vacinas e soros.

Luciana ressalta a importância de se comunicar estas ações para as instituições e para o Governo a fim de viabilizar a produção dao medicamentos de prevenção para o mundo em desenvolvimento. “A tecnologia e a demanda já existem”.

Ana Clara Guerrini Schenberg, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), da USP, diz que existe uma grande dificuldade dos cientistas em transmitir informações sobre sua pesquisa a jornalistas. “Temos que aprender a conversar com o público; a preocupação deve ser do entrevistado e do entrevistador”, argumentou, reconhecendo que melhorou sua relação com a comunicação nos últimos tempos.

As controvérsias sobre o tema ainda pairam sobre o imaginário popular, mas cientistas e pesquisadores concordam que a aceitação do progresso científico – e incentivo para novos estudos – virá a partir do momento que a comunicação com a sociedade, com governos e centros de conhecimento for uma via de duas mãos. “Comunicação e Biotecnlogia” foi um dos temas que integraram o painel Simpósio Brasil-Índia: Construindo Redes de Conhecimento, a fim estimular o intercâmbio de conhecimento entre os dois países.

Leia também...
Nesta Edição
Destaques

Educação básica é alvo de livros organizados por pesquisadores uspianos

Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar

Pesquisa avalia influência de supermercados na compra de alimentos ultraprocessados

Edições Anteriores
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br