ISSN 2359-5191

19/11/2003 - Ano: 36 - Edição Nº: 22 - Saúde - Faculdade de Odontologia
Mordida em alimentos auxilia justiça na investigação de criminosos

São Paulo (AUN - USP) - Um assassino masca um chiclete enquanto mata a vítima e o cospe no local do crime. O vacilo provocado pelo nervosismo do momento pode ser a pista para levá-lo à prisão. Uma pesquisa do Departamento de Odontologia Social promete identificar o delinqüente através da confrontação dos arcos dentários do suspeito com sua mordida em certos alimentos. Segundo Jeidson Marques, autor do projeto, “a pesquisa terá resultados interessantes e reveladores independente dos seus resultados. Se não for possível identificar o criminoso, ao menos será útil na exclusão de alguns suspeitos”.

Até agora foram coletados 50 moldes de arcos dentários dos próprios alunos da faculdade. Nesta semana, a pesquisa entra numa nova fase: eles morderão pedaços de chocolate e maçãs e mascarão chicletes. Então as amostras dos alimentos mordidos serão moldados com silicona de condensação, um material mais preciso e estável que o alginato, usado tradicionalmente para moldes. Depois, estes moldes serão reproduzidos em gesso. Um estudo cego será feito para relacionar e comparar cada mordida ao seu autor.

Para a comparação entre os moldes serão testados quatro métodos. O único empregado em alimentos até hoje no Brasil foi a análise métrica da mordida no alimento com um paquímetro (instrumento usado para medir pequenas distâncias). Em Santo André, um assaltante deixou no local do crime um bombom de chocolate mordido, que foi usado como prova para sua incriminação. Apenas outros dois casos de análise métrica de alimento foram relatados no Brasil. Um deles ocorreu na cidade de Rafard, interior de São Paulo, no qual uma maçã mordida serviu como prova do crime.

Os outros métodos envolvem aparatos mais complexos e funcionam através de sobreposições. Um deles usa o programa de computador Adobe Photoshop 6.0 para comparar as imagens digitalizadas. Os outros dois utilizam folhas transparentes de acetato (similares a folhas para transparência de retro-projetores). Nesta folha é copiado o contorno da parte dos dentes que se encostou ao alimento e depois ela é sobreposta à foto do molde do alimento. O último método testado será parecido com o anterior, no entanto é a linha de contorno da mordida que será copiada.

No caso do maníaco do parque, o motoboy que estuprou e assassinou mulheres no Parque do Estado em 1998, a sobreposição das imagens foi utilizada para a análise de mordidas deixadas por ele nos corpos das vítimas, e não em alimentos. O estudo da mordida foi imprescindível para condenar o maníaco.

A pesquisa busca avaliar as quatro metodologias utilizadas no exterior e a adequação de cada uma delas a um certo alimento, além da elaboração de um documento de orientação para o estudo de impressões dentárias. Portanto, o objetivo maior é tornar científica esta técnica de identificação e deste modo, auxiliar a justiça a esclarecer crimes.

Segundo o professor Moacyr da Silva, orientador de Jeidson, o formato dos dentes é único. Uma cárie, uma fratura e até um tratamento dentário servem para diferenciar os arcos dentários. No entanto, no caso das mordidas, dentes apinhados (acavalados) ou espaçados são determinantes para a identificação.

A técnica estudada é mais barata que a análise de DNA. E se a coleta do material genético for feita de modo inadequado, ou a amostra estiver contaminada por fungos ou células de outras pessoas, a identificação através do DNA fica comprometida. No entanto, seu pouco conhecimento no Brasil é devido ao pequeno número de pesquisas feitas nesta área. O estudo deve ajudar a preencher essa lacuna, ajudar a divulgar a técnica no país e se instituir como uma nova alternativa de identificação para a justiça.

Jeidson deve concluí-lo até meados de dezembro. O próximo passo, segundo ele, “será em estudo sobre a identificação através de mordidas em corpos”.

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